Explorador da alma humana

Alexandre Semedo de Oliveira é um grande narrador cujo prazer em contar histórias transparece nos detalhes dos seus romances, na criação das cenas e dos personagens, todos com alma, humor e vontade própria. “Mesmo que eu entregasse o corpo às chamas” (Ed. Penalux) traz intrigas, decadência moral, reviravoltas e surpresas como os melhores dos mestres Mario Puzo, Sidney Sheldon e Harold Robbins. O romance conta a história de uma jovem mulher, casada com um escritor muito bom, mas que não faz sucesso, que é contratada para trabalhar na casa de um escritor que, ao contrário, escreve mal, mas vende aos milhões. Tudo indica que a contratação não é por acaso. No universo criado por Alexandre Semedo de Oliveira, o amor ganha significados, formas e consequências que só mesmo lendo para descobrir – e se deliciar. Leiam a entrevista com o escritor.

Seus romances lembram um pouco os best-sellers de Sidney Sheldon e Harold Robbins, grandes vendedores de livros do século XX. Você leu esses autores? Quais são suas influências?

R: Na verdade, não. Em geral, dou preferência aos clássicos. Há algo que acho curioso: cada leitor parece identificar meu estilo com algum autor específico. Já me disseram até que minha escrita lembra a de Hemingway. Fico feliz com essas comparações, mas o que eu busco é uma voz própria, que possa lembrar qualquer escritor em geral, mas que não seja cópia de nenhum específico.

Em seu Instagram você se apresenta como católico e seus livros abordam o tema da religiosidade. Qual é a importância da religião em sua vida e em sua literatura?

R: Sou religioso desde que me conheço. Mas não quero fazer literatura religiosa. Para mim, a literatura deve retratar a vida real, sem se tornar peça de publicidade para ideologias, filosofias ou religiões. Porém, a fé religiosa faz parte da vida real. A imensa maioria dos brasileiros tem alguma fé e a leva a sério e, talvez, esse seja o traço mais marcante do nosso povo. Por isso, muitos de meus personagens são pessoas de fé… E muitos outros não o são.

As tramas de seus livros envolvem intrigas, ciúmes, crimes e violência. De onde vêm essas histórias? A experiência como juiz ajuda?

R: Vêm do mundo real. Essas coisas realmente acontecem no dia a dia das pessoas. O material primário com o qual eu trabalho são histórias que vi, ouvi ou da qual tomei conhecimento por alguma outra forma. Sobre elas, deixo a imaginação agir. Juízes tratam de vidas humanas e penso que essa experiência me ajuda a compor o aspecto psicológico dos personagens.

“Mesmo que eu entregasse o corpo às chamas” é um trecho da Bíblia? Por que escolheu esse título?

R: Sim. É uma citação de 1 Cor 13, 3, o famoso “Hino à caridade”. Demorei muito para escolher um título e a ideia dele somente me ocorreu meses após o término da escrita, quando percebi que o hino, como um todo, resume o arco dramático da protagonista. De um lado, ele se refere à fraqueza do ser humano e do constante apelo que corre em nós para que nos entreguemos às chamas das paixões; e de outro, à grandeza desse mesmo ser humano, capaz de entregar sua vida em favor do próximo. Quem ler o romance perceberá com alguma rapidez como o Hino e a trama se entrelaçam.

O romance alterna o discurso em primeira e terceira pessoa e a narrativa é interrompida antes de uma grande revelação para ser retomada adiante. Esse quebra-cabeça complexo é planejado antes de iniciar a escrita do romance? Acontece à medida que escreve? Ou é um efeito criado posteriormente?

R: Em geral, é planejado antes da escrita para criar determinado efeito na alma do leitor. No trecho que você menciona, se o narrador não se alterasse, seria bem menos impactante e o leitor se envolveria menos com o drama retratado.

Você mora em Franca, interior de São Paulo. Como é a vida de um escritor iniciante longe das grandes capitais? Quais são as dificuldades e vantagens, se é que há alguma?

R: Muito difícil. Não somente porque estamos longe das editoras, mas porque estamos longe de quase todo evento importante envolvendo a literatura contemporânea. Vantagens? Bem… Vejo duas. A primeira: há mais tempo e tranquilidade para que a gente possa se dedicar à escrita. A segunda: as relações humanas são mais ricas, mais belas e mais profundas do que as que se veem nos grandes centros. E, para quem escreve com o intuito de explorar a alma humana, isso talvez não tenha preço.

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