Rio fértil e caudaloso

Um livro pleno de beleza e afeto traduzidos em poesias lúdicas que falam à criança que habita em nós. Assim é “Rio” (Ed. Raiz/Cambuca), que marca a estreia de Inah Xavier na poesia. Mesmo quando o tema é “sério”, a autora tem um jeito de abordá-lo com leveza e frescor sem abrir mão da profundidade. Leiam a entrevista com ela.

Onde fica a nascente do seu “Rio”?

R: As perguntas inocentes, inusitadas e de uma simplicidade complexa feitas pelo meu filho Benjamin, aos 3 anos de idade, reacenderam o meu amor pela escrita criativa. Eu comecei a sentir as palavras fluindo, transformando-se em poesias inspiradas pelas minhas vivências e pelas ausências também. Escrever, de repente, se tornou um prazer, uma companhia, uma espécie de cura e benção.

Sua poesia tem um que de pureza e de alegria que lembra, às vezes, Vinícius de Moraes. Ele é uma influência? Além dele, quem mais?

R: Talvez Vinícius de Moraes seja, além de uma das maiores, a primeira influência da poesia que escrevo. Minha mãe sabia de cor todas as poesias e letras de músicas dele, recitava e cantarolava pela casa e eu a imitava. Música e poesia vivem de mãos dadas. Sou eclética no gosto musical, mas a bossa nova, certamente, com o seu amor intenso e delicado, me encanta e me inspira muitíssimo! Os poetas Manoel de Barros e Carlos Drummond de Andrade são os meus favoritos e as poetas contemporâneas as quais eu mais me identifico são a Ana Martins Marques, a Rita Isadora Pessoa e a Matilde Campilho.

Você cresceu entre o Rio de Janeiro capital e a propriedade de sua família no interior do estado, lugar de natureza exuberante. O quanto esse lugar é importante para você como escritora? O quanto ele te nutre?

R: As minhas raízes estão em Andrade Costa, um lugar incrível no interior do Estado do Rio de Janeiro, origem da minha família por parte de pai. Lá, vivi a parte mais feliz da infância, comendo mangas e jabuticabas no pé, andando a cavalo, tomando banho de chuva e de piscina com os primos, brincando de adivinhar o formato das nuvens e esperando as estrelas cadentes caírem do céu. Eu amo a sabedoria da natureza, os ciclos da vida, o canto dos pássaros, o cheiro da terra molhada, o silêncio, a simplicidade. A semente plantada na terra dos meus avós é, aonde quer que eu vá, a tradução dessas sensações e, sem dúvidas, para sempre será.

“Rio” traz também textos curtos em prosa poética muito belos e agradáveis de ler. Está em seus planos se aventurar pelas narrativas longas, como conto e romance?

R: Rio fluiu naturalmente. Eu acho linda a capacidade de um escritor em se determinar e escrever um romance de forma planejada. Jamais consegui. Todas as vezes que tentei, me frustrei. Todos os textos e poesias que escrevi surgiram enquanto eu andava pelas ruas, descansava na rede, tomava banho, almoçava com uma amiga em um restaurante aconchegante, via uma fotografia, admirava uma paisagem, vivia uma paixão, sofria por amor, me desdobrava em mil no caos que vivi durante a pandemia sendo mãe, cuidando da casa, trabalhando e fazendo tudo sozinha. Amarei escrever um romance, mas ele precisa vir me encontrar.

Quais são seus planos depois que navegar esse “Rio”?

R: Acabei de escrever um livro infantil, inspirado em uma experiência pessoal muito transformadora que tenho vivido. Um outro, fruto de um sonho do meu filho, está sendo construído por nós dois, em conjunto com os seus amiguinhos, que serão, tais como Ben, personagens de uma aventura fabulosa. Na poesia e na prosa poética, estou pesquisando histórias familiares e tenho colhido depoimentos que têm me emocionado muito.

Gostaria de agradecer aos queridos amigos leitores da primeira edição de Rio, que em breve terá nova edição pela Editora Cambucá, novo nome da Editora Raiz.

O livro é do leitor. Eu não gosto da expressão “meu livro”, porque o livro, de fato, transborda das mãos do escritor e ganha roupas novas a cada olhar, a cada abraço de mãos que o toca, a cada leitura, a cada interpretação pessoal e a cada sensação que ele é capaz de fazer reverberar no leitor. Isso é sagrado, lindo e não pode ser desprezado. E esse movimento de entrega e de deliciosa conexão que tenho vivenciado é o que me faz continuar.

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