Mergulho para dentro

Paulo de Moura é um escritor diferente. Nasceu longe dos grandes centros, peregrinou por diferentes cidades brasileiras e estrangeiras. Viveu uma década na Cidade do México e há dois anos reside em Mérida, capital do estado de Yucatán. É autor de seis livros sendo os mais recentes o volume de contos “A medida do mergulho” e o livro de poesias “Dentro” (Benvinda Editora). Vem se tornando conhecido pelo tratamento poético dado às suas obras, ancoradas na relação humana com o tempo e a morte. Leiam a entrevista com o escritor.

 

Você vive há muitos anos fora do Brasil, em um país de língua espanhola. Como é sua relação com a Língua Portuguesa?

 

R: Costumo dizer que vivo no Brasil, fora do Brasil. Porque, ainda que esteja no México, sou professor de português, autor de livros didáticos de Português, Literatura e Redação para editoras brasileiras e publico minhas obras no Brasil. Então, minha relação com a Língua Portuguesa é íntima e diária.

 

Como se dá o processo de escrita de seus livros? Faz anotações? Escreve à mão? Deixa sair num jorro e depois retrabalha ou é algo mais racional?

 

R: A escrita dos meus livros costuma ser fruto de um projeto. Faço muitas anotações em cadernos, cadernetas, blocos, arquivos do computador. Os temas vão surgindo e eu vou registrando tudo o que me vem, até alcançar a configuração de uma obra. Faço planos só para desrespeita, depois, o que foi planejado inicialmente.

 

“Dentro” é um livro que expressa certa revolta através da poesia. Em que circunstâncias ele surgiu?

 

R: Não diria “revolta”, mas dor e perplexidade em relação à violência que nos oprime. O livro nasceu de um profundo incômodo em relação ao contexto do Brasil atual. Quando refleti sobre o meu papel nesse cenário, como ser humano, cidadão, escritor, homem, professor, pai, o tema explodiu, em versão única, no conjunto de poemas que configura o livro.

 

Os contos de “A medida do mergulho” narram situações dolorosas com desfecho ora poético, ora bem humorado. O humor e a poesia salvam?

 

R: Salvar é uma palavra muito forte, mas se ela é compreendida como criar possibilidades, abrir, ampliar, aí sim, acredito que a poesia tenha grande importância em nossas vidas. Já a ironia, às vezes marcada por um humor muito fino, ajuda-nos a repensar com leveza, como o mundo se apresenta para nós.

 

O tempo e a morte são temas recorrentes em sua obra. Como você mesmo lida com eles?

 

R: Creio que como a maioria das pessoas adultas: com certa preocupação e o exercício constante de se distanciar e tentar enxergar esses processos com um olhar mais  questionador, filosófico e poético.

 

Seus livros estão publicados em idioma espanhol?

 

R: Tenho um projeto de tradução para o espanhol de todas as minhas obras. “Dentro” e “A medida do mergulho” já se encontram disponíveis em formato e-book.

 

Tem planos de vir ao Brasil? Caso sim, quando? Fará lançamentos aqui?

 

R: Antes da pandemia eu vinha com frequência ao Brasil, várias vezes por ano. Pretendo regressar entre agosto e setembro de 2022. A ideia é favorecer encontros com meus leitores para, pelo menos, autografar os livros mais recentes, cujo lançamento ocorreu de forma virtual.

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