O fim do amor na África

Em seu primeiro romance, Jacqueline Farid nos guia através das deslumbrantes paisagens da Namíbia, enquanto conta uma história sufocante e envolvente, em meio a uma atmosfera opressiva e ao mesmo tempo fascinante. Em No reino das girafas (Editora Jaguatirica) o desfecho nos alcança sedentos e curiosos, e a conclusão é uma só: por mais que tentemos ludibriar o destino, a vida sempre surpreende.

 

Você viajou à Namíbia três anos seguidos. Por que esse destino tão incomum?

 

 

Gosto muito de viagens que incluam contemplação. Meu companheiro na época era apaixonado pela África, onde já morou, e esteve na Namíbia com amigos, adorou e me convidou para ir com ele no ano seguinte. Voltamos juntos outras duas vezes. O país é lindíssimo e a vontade de voltar veio antes mesmo do término da primeira viagem.

 

A protagonista de No reino das girafas é uma mulher que viaja acompanhada, mas, intimamente, se sente sozinha. Por que é sempre tão difícil terminar um relacionamento?

 

 

Acho que o fim é sempre difícil, porque ė uma experiência de morte em vida. Na verdade, em termos metafóricos é interessante a interpretação de que a personagem viaja acompanhada, mas, de fato, já está sozinha. Porém, criei a protagonista como uma viajante solitária mesmo, como parte da porção ficcional do livro que é também um relato de viagem.

 

O cenário belo e um tanto sufocante do livro serve também como uma metáfora para o fim do casamento?

 

 

Na Namíbia, há uma lembrança de morte todo o tempo, porque os animais vivem e se organizam para a sobrevivência em meio à ameaça constante de virar comida de leões ou outros predadores. Os relacionamentos também estão sempre assombrados pelo fim, daí a necessidade de declararmos que o encontro é “para sempre”, isso nos tranquiliza, precisamos desse pacto. Na Namíbia há uma conexão profunda com a natureza que ressalta, em quem contempla, questões de morte e também de eternidade, de permanência.

 

Enquanto viajava pela Namíbia, foi fazendo anotações para escrever? Como foi o processo de criação deste livro?

 

 

Sim, sempre viajo com caderno, um para cada viagem, e tenho necessidade desse registro. A Namíbia me trouxe muitos momentos de epifania que tentei registrar não apenas em fotos, mas, sobretudo, em palavras. Após a terceira viagem, que ocorreu no final de 2011, decidi escrever o livro, que concluí em 2012. Foi um processo prazeroso de retorno simbólico ao país que me marcou profundamente.

 

Você gosta de viajar e viaja bastante. Quais outros países exóticos já percorreu? Algum deles resultará em um novo livro?

 

 

Viajo muito menos do que gostaria, mas costumo preferir as viagens que me causem impacto visual, o que sempre me provoca um redimensionamento. Foi assim na selva amazônica, em 1999, uma viagem solitária que levou a todas as outras realizadas depois, sozinha ou não. Em busca dessas paisagens, já fui sozinha para lugares como o Atacama, Ilha de Páscoa,  Machu Picchu e arredores, Patagônia argentina e chilena e, mais recentemente, para algumas ilhas gregas. Quero voltar à África e conhecer a Ásia, há muito o que ver. Pretendo sim escrever um livro cuja história parta dessa busca solitária de aventura e da epifania na contemplação de paisagens, mais uma vez misturando ficção e realidade. Estou iniciando esse livro, mas ainda é cedo para detalhes.

 

– Valéria Martins

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