Rute Gusmão é poeta, prosadora e artista plástica. Sua poesia pensa e sente questões humanas contemporâneas, como questões sociais, da mulher, do meio ambiente, dos indígenas e da palavra. O livro atual, “Amar-o-tempo” – lançamento 4 de abril, 17h30 às 20h na Livraria Alento (Rua Senador Vergueiro, 80 – Flamengo/RJ), reúne poesias inéditas e se divide em onze partes com títulos como “Sem avesso”, “Olho mágico”, “A céu aberto”, “Estiagem”, entre outros. São poesias curtas que falam da passagem do tempo – ora amado, ora amargo –, e contém um apanhado das experiências diversas da artista. Leiam a entrevista com Rute.
Como foi a seleção de poesias para este livro?
R: Nos livros anteriores – “Moldura da Pele” e “Sapatilha no Descampado” – reuni poemas antigos. O atual “Amar-o-tempo” contém minha produção posterior a dois romances. Nele incluí os poemas atuais que considerei melhores na forma/conteúdo.
Como se dá o seu fazer poético? Como as poesias surgem?
R: Na escrita de um poema posso ser movida por uma conversa ou notícia, um conto, livro ou filme, uma pintura ou relacionamento. Posso ter uma “ideia súbita”, como disse Autran Dourado. Escrever poemas exige trabalho e não inspiração. Depois de muita transpiração, a forma e o conteúdo, por fim, se encontram parceiras. É claro que tudo o que somos pode estar presente ali: a intuição, o inconsciente, emoções, sentimentos, consciência do mundo, autoconhecimento, vivências.
Você frequenta a OLIP – Oficina Literária Ivan Proença há anos. Isso a ajudou a escrever melhor? Como?
R: Sim, me ajudou a escrever melhor a prosa e a poesia. Não tenho formação acadêmica em literatura; minha área profissional é das políticas sociais, mas escrevo poemas desde os 18 anos. Ouvi e recitei muita poesia em família, quando menina. Sei que meu gosto pela escrita vem principalmente de lá. A OLIP, a oficina da Texto Território e outras que frequentei me ajudaram a entender o que é a escrita literária. E ler bons romances e boa poesia tem sido fundamental.
Além de poesias você tem contos e romances. Que gênero mais gosta de ler? E de escrever?
R: Gosto de ler e escrever esses gêneros. Atualmente leio poesia porque estou mergulhada na escrita poética.
Você acompanha a cena literária contemporânea? O que tem lhe chamado a atenção?
R: Acompanho dentro de meus limites, como escritora. Há muito me preocupa a produção artística voltada para o mercado, para suas regras e práticas. Também me impressiona a presença da comunicação de massa pela rede, sem compromisso com a cultura latino-americana e com a língua; a possibilidade da IA avançar sem levar em conta a natureza humana. Mas, vejo também nossa cultura se afirmando no mundo por meio da produção artística e da tomada de consciência do que é nosso por parte de setores da sociedade.
O que podemos considerar boa poesia?
R: Lembrando o que disse Antonio Cicero, é a poesia que pensa não sobre o mundo, mas o mundo. Eu acrescentaria: é a poesia escrita com literariedade, ritmo, musicalidade. E, lembrando palavras de Jorge Luis Borges – é a que proporciona emoção estética.