Uma voz que encanta e prende

“Todos os Fins” fala das finitudes, às vezes de maneira dolorida e triste; mas também trata de começos e recomeços que surgem como fagulhas de alegria. “Anna e Silvia” são duas mulheres, mães de família, em vidas paralelas: uma real, feliz no casamento; outra fictícia, imersa em uma relação tóxica. A escritora Elizabeth Inêz Espinosa transborda histórias e aprendeu com mestres como os Luiz Antônio Assis Brasil, Tiago Novais, Noemi Jaffe, Otto Leopoldo a contá-las. Seu estilo claro e coloquial nos faz sentir muito próximos da mão por trás do texto e configura o grande diferencial dessa escritora que desponta como uma das vozes mais cativantes da literatura atual. Leiam a entrevista com a Beth. 

Conte um pouco da sua vida de leitora e como a escrita surgiu em seu caminho.

R: Havia na casa do meu irmão mais velho (sou temporã) uma grande biblioteca, com coleções de clássicos da literatura brasileira e eu amava a possibilidade de escolher o que quisesse ler. Aproveitei bastante. A escrita foi surgindo aos poucos, meio sem querer, como algo natural, crônicas escritas à mão em cadernos grandes, antes mesmo da existência do computador.   

Você fez oficinas literárias com grandes mestres. Isso ajudou a aperfeiçoar seu talento? 

R: Sem dúvida. Especialmente para mim, que sou um pouco procrastinadora, as oficinas me impulsionaram a escrever, deram o empurrão necessário. Como dizem os mestres, a gente não pode esperar pela inspiração para começar a escrever, e se ela existir deve te pegar escrevendo. Aí a coisa flui.  Além disso, as oficinas fornecem as dicas necessárias para afinar a arte.

Como foi o processo de escrita e seleção dos contos para “Todos os fins”?

R: A maior parte deles foi escrita no pior momento da pandemia, quando morriam centenas de pessoas todos os dias e ainda não havia vacinas. Foi uma forma de desabafo, de desafogo do espírito.

Relacionamentos tóxicos/abusivos fazem parte da pauta atual. Antes de começar a escrever “Anna e Silvia” tinha a intenção clara de abordar este tema? 

R: Não. Até porque comecei a escrever em 2012, quando o assunto não estava em pauta, pelo menos não como agora.  Deixei o escrito parado todos esses anos, também sem saber se publicaria ou não. Foi durante a pandemia que resolvi terminar.

Sua voz de escritora é muito natural e parece que está conversando com a gente. Sempre foi assim ou foi algo conquistado?

R: Acho que surgiu naturalmente, um relaxamento conquistado aos poucos, talvez com a maturidade, talvez com tantos cursos de escrita. No primeiro romance, eu tinha o material e as ideias, mas a escrita não fluía de forma fácil, eu escrevia cheia de dedos, com muita retórica. Parecia que eu não tinha o direito de estar naquele lugar de escritora. 

Você acompanha a literatura brasileira atual? O que tem lido?

R: Tenho lido alguma coisa da literatura atual, alguns ganhadores de prêmios, mas confesso que leio mais os clássicos (alguns começados e não terminados, como Ulysses, A Divina Comédia, A República, etc), e tenho lido mais ainda livros de pesquisa para o ensaio que estou escrevendo “As Mulheres de Gaya”, do mito de Eva até as mulheres modernas.

O que diria a alguém que gosta de escrever e não sabe por onde começar?

R: Diria para sentar no computador e começar a escrever como se fosse seu diário particular, como um confessionário, sem se preocupar com o julgamento alheio. Porque a escrita vem do treino, quanto mais se escreve, mais fácil fica. Diria para escrever tudo o que lhe viesse à cabeça. E depois de um tempo (dias, semanas, meses), lesse com calma e aparasse as arestas, reescrevesse. Reescrever e aparar arestas é sempre necessário. 

Quais são seus planos daqui para frente?

R: Terminar o ensaio que é um projeto ousado, difícil, um tema bem discutido, mas complexo. Depois escrever um romance para ganhar um prêmio literário (ou ao menos ser finalista!). Sou sonhadora e ousada, eu sei.

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