A literatura é magnânima, tem a grandeza da Arte e do Coração. Dentro dela cabem muitas coisas além da arte de narrar, como a espiritualidade e a religiosidade. Este é o caso do novo livro de contos de Ivana Arruda Leite, professora de Escrita Criativa e autora de obras com títulos “profanos” como “Falo de Mulher” e “Ao homem que não me quis” (finalista do prêmio Jabuti). “Cura-me, Senhor” reúne episódios do Novo Testamento em que Jesus operou milagres para curar alguém. No entremeio, Ivana narra situações da sua própria vida à luz da maturidade. Amores destrambelhados, porres, sexo casual, decisões erradas. Em meio aos desacertos, a possibilidade de transformação ou metanóia (palavra cujo significado é destrinchado no texto). Leiam a entrevista com a escritora.
“Cura-me, Senhor” é bem diferente dos seus livros anteriores. Quando e onde surgiu a vontade de escrevê-lo?
R: Comecei a escrever “Cura-me” em maio de 2020, em plena pandemia. Eu estava lendo muitos livros sobre teologia e espiritualidade em geral. Resolvi reescrever as parábolas e os milagres dos evangelhos numa linguagem minha, mas respeitando a historicidade conforme narrados no Novo Testamento. Depois fui misturando com as minhas próprias doenças e curas. A narrativa é bem pessoal e autobiográfica. Sendo assim, eu diria que ele não se distancia tanto dos meus livros anteriores. A protagonista segue sendo a mulher que nasceu nos anos 50 e tem grandes e loucas aventuras pra contar.
Os contos sobre os milagres de cura, recontados em suas palavras, remontam à Bíblia. Você leu a Bíblia para escrever este livro? É uma leitura do seu dia a dia?
R: Eu leio a Bíblia desde os anos 70 e sempre retorno a ela. Às vezes minhas leituras focam mais no Novo Testamento, às vezes no Velho, passando pelos Salmos, pelos profetas, o Livro de Jó, o Eclesiastes, etc. A Bíblia é uma leitura riquíssima e diária na minha vida.
Existe um bocado de preconceito no meio literário para com os livros que falam de religiosidade. Frequentemente são confundidos com livros de autoajuda. Você pensou nisso enquanto escrevia “Cura-me, Senhor”?
R: Minha ideia foi justamente fazer com que as pessoas vejam que esse preconceito (como todos, aliás) não faz o menor sentido. Trazer a narrativa dos evangelhos para uma linguagem atual e cotidiana, sem banaliza-la nem torná-la “moderninha”, aproxima o leitor do universo espiritual no que ele tem de belo e profundo. A verdadeira espiritualidade é muito mais um espinho na alma do que autoajuda.
Como seus amigos, colegas escritores e o meio literário receberam seu novo livro?
R: Os amigos que comentaram gostaram muito e veem “Cura-me, Senhor” como continuidade da minha obra, apesar do tema ser diferente.
Depois de “Cura-me, Senhor” você tem algum novo projeto? Pode contar pra gente?
R: Tenho um romance pronto, que também tem um viés religioso, mas por outro ângulo. Será meu primeiro romance cujo protagonista é um homem.
O livro fecha com você em Israel, buscando e encontrando Seu Namorado. Essa viagem de fato aconteceu? Como foi?
R: Sim, aconteceu. Sempre sonhei em conhecer Israel, a Terra Santa, andar pelas ruas de Jerusalém, apoiar minha cabeça no muro das lamentações. Assim que a pandemia amainou, em março de 2022, eu fui para Israel realizar meu sonho. O livro já estava escrito nessa ocasião, mas faltava o último capítulo, que só foi escrito na volta da viagem.