Quando a medicina e dança se unem em favor da Literatura

“O que faria se fosse com você?” Essa pergunta/questionamento parece guiar a trajetória do médico-escritor Hélio Plapler, desde 2014 membro do GENAM – Grupo de Pesquisa e Estudos em Literatura, Narrativa e Medicina da USP. Seu interesse é a Medicina Narrativa, abordagem da história dos pacientes em seu sentido mais amplo. Uma das formas dessa abordagem é a Literatura. Ele vem inscrevendo contos e poesias (haicais) em concursos literários e já ganhou alguns prêmios. Seu livro de estreia ‘solo’ é “Crônicas mundanas” (Ed. Dialética) com lançamento sábado, 7 de outubro, em São Paulo. Leiam a entrevista com o escritor.

Você sempre gostou de escrever ou esse desejo despertou na maturidade?

R: Desde as redações na escola eu gostava de escrever, mas apenas para mim. Não tinha a pretensão de escrever para os outros, a escrita era uma forma de organizar meus pensamentos. Só depois de escrever sobre a minha própria doença eu percebi que minhas histórias poderiam interessar às pessoas.

Você faz parte do GENAM junto com outros médicos e escritores como Andréa Del Fuego. Como são as reuniões desse grupo? Presenciais ou online? O que vocês fazem ou discutem?

R: As reuniões teóricas eram presenciais até o advento da pandemia. Passaram e ser online e na forma de um book club em que discutíamos livros relacionados a doenças como “Decameron”, “Nêmesis”, “A montanha mágica” e outros. Daí surgiu um livro, o “Pandemos, diário da peste”, coletânea da qual fui um dos organizadores e um dos autores. Já havia participado de outro livro do grupo, “Na Saúde e na Doença: Fronteiras entre Humanidades e Ciência”. Nos anos seguintes passamos a discutir obras de arte e filmes sempre em relação à Saúde e ao Cuidado.

Suas crônicas contêm histórias divertidas, plenas de humanidade e afeto. O fato de ser médico e ouvir histórias dos pacientes ajudou a compor este livro?

R: Com certeza. O médico é, ou deveria ser, antes de tudo, um ouvinte de histórias. Estar atento aos sentimentos do “outro” no consultório e no hospital ajudou a perceber fatos e situações que de outra forma passariam desapercebidos. Ajudou a entender a importância que o trivial tem na vida das pessoas. Afinal, as pessoas vivem essas situações todos os dias.

Por que escolheu o gênero crônica para estrear?

R: Sou um contador de “causos”, ainda não me aventurei a escrever contos mais longos. A crônica é um retrato do tempo e é também uma crítica que pode ser feita com bom humor, algo de que eu também gosto. Escrevo da mesma forma que falo, é como se estivesse conversando com o leitor e pedisse a ele que externe a sua opinião.

O lançamento de seu livro não será em um bar ou livraria, mas em uma academia de dança. Por que a escolha desse local? O que os convidados verão acontecer por lá?

R: Fui aluno desta escola por cinco anos até que adoeci e tive um dos membros inferiores amputado. Quando recebi minha prótese pedi para voltar a dançar. A Milena Malzoni não só concordou como foi a fundo para me permitir chegar a isso e esse processo perdura até hoje. Essa escola foi fundamental na minha recuperação. A dança e
a literatura têm muito em comum: cadência, ritmo, emoção. Um tango, por exemplo, é um romance ou tragédia em forma de dança. Quem for ao lançamento terá uma vivência de dança e, para quem quiser continuar, haverá o Baile da Palavra Dançada. A brincadeira é ir com uma camiseta com alguma palavra ou frase espirituosa.

Você também escreve poesias curtas e contos. Em breve teremos um novo livro na praça?

R: Tenho um livro de haikais que espero lançar em breve. Por enquanto tenho participado de coletâneas, fui finalista do prêmio Off Flip deste ano na categoria “crônicas” e obtive o quarto lugar no VI Concurso Internacional de Poesia de Joaquim Távora.

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