Uma mulher livre

Pode uma história impactar e inspirar outras vidas feridas pelo destino? Após passar anos fazendo tratamento contra infertilidade, encarar a morte dos avós, do irmão e do pai, a escritora pernambucana Tchela descobriu que era possível renascer. O processo custou seu casamento. Mas também foi o estopim para um mergulho inevitável dentro de si – única chance de preservar a sanidade – e sair do outro lado re-nascida: ela mesma, o bebê que nunca teve. “Eu Natureza” é o convite de Tchela para compartilhar essa viagem ao encontro a si. Leiam a entrevista com a escritora.

Em seu livro, a narrativa se divide entre os quatro elementos da natureza – fogo, água, terra e ar Como surgiu a ideia dessa analogia/metáfora?

R: Apenas fluiu. “Eu Natureza” foi escrito com a minha alma. Uma escrita terapêutica. Quando começava a escrever, as palavras simplesmente vinham como uma avalanche e eu ia escrevendo. A natureza nos habita e ela apenas tomou lugar nas palavras do livro.

Para escrever o livro, você resgatou trechos de diários antigos ou decidiu (re)escrever sua própria história?

R: Não. Foi terapêutico. Sem forma, sem estética, sem regra, com a alma transformando em palavras o que me atormentava por dentro. Palavras de dentro, da alma.

Quanto tempo levou escrevendo o livro? Porque ele parece seguir o curso da sua vida. Quando começou e quando terminou?

R: A ideia de escrever surgiu em 2018, após a morte do meu irmão. Em 2019, ensaiei escrever um primeiro capítulo, mas parei. Então, durante a pandemia, em 2021, após perder o meu pai, o livro chegou. As palavras começaram a gritar na minha cabeça e passei três meses escrevendo. Algumas vezes, perdia o sono com ansiedade pelas questões que estava vivenciando e a escrita se tornava uma cama quentinha para mim no meio da madrugada.

A história é narrada de um ponto de vista pessoal e revela bastante da sua intimidade. Em algum momento teve receio dessa exposição? Como lida com isso?

R: Penso que somos seres humanos e, como tal, passamos por processos muito semelhantes no decorrer da vida. Não é sobre mim, mas sobre o que eu experimentei e sobre o olhar que pude dar a cada vivência. Na verdade, as histórias compartilhadas são tão somente a minha visão, a minha leitura, o meu sentir sobre fatos que se repetem em cada lugar do planeta, com roupagens, cenários e personagens diferentes, mas que são experimentadas com frequência fora da minha bolha. Então, não, compartilhar esses processos não é problema para mim.

Como tem sido o feedback do público? A maioria dos leitores é mulher? Existem homens também?

R: Este é um ponto interessante. Desde o início, eu acreditava que escrevia para mulheres. Sim, majoritariamente, o meu público ainda é o feminino, mas muitos homens leitores se identificam, comentam, enviam mensagens para falar de experiência com a leitura. Escutei de alguns que o meu livro e as crônicas que escrevo nas redes sociais não são apenas para mulheres, são para seres humanos.

Além do lançamento no Brasil, você também realizou sessões de autógrafos na Europa. Como foram esses eventos? As pessoas falavam português? Compraram livros?

R: Quando estive aqui em Barcelona no ano passado, houve uma apresentação do meu livro na livraria Aida Books. Foram momentos inesquecíveis porque, ao final da minha apresentação (em portunhol, rsrsrsrs), as pessoas que estavam ali (brasileiros, espanhóis, americanos, italianos) começaram a compartilhar as suas histórias também. Este foi um momento único porque confirmou a razão pela qual grita, todos os dias em mim, essa vontade de compartilhar experiências. Compartilhando nos aproximamos mais da nossa humanidade, acessamos a nossa vulnerabilidade e nos entregamos às pessoas que estão ao nosso redor e a nós mesmas. Trouxe 40 livros para a Europa durante os meus 85 dias sabáticos. Os dois últimos, vendi no aeroporto de Paris, enquanto aguardava o meu voo de volta.

Seu novo livro, “Eu mulher e meus 85 dias sabáticos”, ainda em processo de escrita, é a continuação de “Eu natureza”? O que os leitores podem esperar?

R: Penso que é a continuação da vida, não exatamente de um livro ou de seus personagens. Minhas leitoras e leitores podem esperar entrega, desnudamento. Acho que são essas as palavras. Entrega de uma mulher que se desnuda para se reconhecer.

Quem é Tchela hoje, mulher livre vivendo em Barcelona, Espanha?

R: Uma mulher que não cabe e nem se define em palavras, nem em rótulos, que vive o presente intensamente, com alma, desfrutando de todos os movimentos que a impermanência da vida lhe proporciona.

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