Em 2100, plantas e animas domésticos não mais existem. O namoro e o romance foram sufocados pela lógica do mapeamento genético, que induz à procriação livre de doenças. Sucessivas epidemias de vírus mortais ameaçam a vida humana. Neste cenário, uma jovem chamada – não por acaso – Eva, empreende uma busca por seu pai, especialista em robótica desaparecido. Enquanto isso, um grupo autointitulado Movimento Anticivilizatório promove atentados pregando o fim da inteligência artificial para salvar a humanidade. Esse é o enredo de “O mundo sem eles” (Ed. Litteralux), corajoso romance de estreia da escritora e roteirista Katia Kreutz. Leiam a entrevista com a autora.
Você escolheu estrear com um gênero incomum aos escritores brasileiros. Por que a ficção-científica?
R: Eu vejo esse gênero como uma exploração daquilo que a humanidade pode se tornar. Isso permite a abordagem de diversas questões existenciais, mas em um universo de aparente fantasia, que parte da imaginação. Imaginar o futuro, para mim, é uma forma de buscar respostas para as questões do presente.
A história de “O mundo sem eles” encontra ecos na pandemia de covid-19, mas vai além. Como surgiu a ideia do livro?
R: Comecei o livro um pouco antes da pandemia, instigada a escrever sobre os avanços da inteligência artificial – que só se tornaram ainda mais surpreendentes, desde então. A questão do isolamento social trouxe um pano de fundo de normalidade em meio ao caos que achei interessante abordar, principalmente porque existe a chance de que enfrentemos situações semelhantes (ou piores) no futuro.
Quais livros e autores de ficção-científica foram importantes na sua trajetória? O que mais você lê?
R: No gênero de ficção científica, acabei sendo mais influenciada por autores estrangeiros, principalmente Isaac Asimov (Eu, Robô), Arthur C. Clarke (2001: Uma Odisseia no Espaço) e Margaret Atwood (O Conto da Aia). Também sou muito fã de Albert Camus (A Peste) e José Saramago (Ensaio Sobre a Cegueira).
Roteirista de profissão, você narra sua história com frases e capítulos curtos, o que imprime velocidade ao texto e condiz com o gênero thriller. Roteiro e literatura são capazes de coexistir?
R: Acredito que são formas diferentes de contar histórias, embora possam se complementar – afinal, existem muitas adaptações bem-sucedidas de livros para filmes. Aliás, comecei O Mundo Sem Eles como um roteiro de longa-metragem, mas senti a necessidade de mergulhar um pouco mais fundo nesse universo e nos personagens. O que não impede que a história também seja, um dia, adaptada para o cinema.
Escrevendo em um gênero quase sempre dominado por homens, como tem sido a recepção do livro pelos leitores e pelos outros escritores?
R: As respostas têm sido muito positivas! Isso prova porque é importante considerar as questões de gênero nas produções culturais: representatividade. As leitoras também precisam se ver nas personagens e se identificar com elas. Podemos ajudar a mudar o cenário da ficção científica trazendo novas vozes, explorando esse gênero em histórias que se passem em terras brasileiras e que retratem um pouco da nossa própria realidade.
Conte um pouco como foi o lançamento em sua cidade natal, Palotina/PR.
R: Foi maravilhoso e emocionante! Tive muito apoio da imprensa local na divulgação e cobertura, além de contar com a presença do Prefeito do município, da Vice-Prefeita e da Secretária de Educação e Cultura. Como Palotina é minha cidade natal e passei lá toda a infância e adolescência, além de ainda ter boa parte da família morando na cidade e uma enorme quantidade de amigos, foi muito bom poder celebrar essa conquista com tantas pessoas que me apoiaram no decorrer da minha jornada.
Vai continuar escrevendo Sci-fi? Ou vai enveredar por outros gêneros?
R: No momento estou esboçando uma história de suspense que atravessa duas gerações, inspirada no passado de minha mãe no sul do Brasil e ficcionalizando a peculiaridade de que ela vem de um local com uma grande quantidade de gêmeos (como eu também sou). Mas gostaria de voltar ao universo de O Mundo Sem Eles, pois ao final da história há um gancho para uma sequência, cuja estrutura principal já está na minha mente.