O passado antes do fim

Com orgulho a Oasys Cultural apresenta o romance Liturgia do fim, da escritora paraibana Marília Arnaud, nossa cliente de agenciamento literário. O livro acaba de ser publicado pela Editora Tordesilhas e tem noite de autógrafos dia 12 de agosto em João Pessoa, Paraíba. Liturgia do fim é o segundo romance de Marília e conta a história de um homem que retorna a sua cidade natal para um acerto de contas com o pai.

 

Liturgia do fim é narrado em primeiro pessoa por um personagem masculino, sendo você mulher. Como e de onde surgiu essa voz? 

 

O que posso lhe dizer é que a voz de Inácio foi se construindo lentamente dentro de mim, ao longo de alguns meses, até eu sentir que ele estava pronto para contar sua história. Muitos dos meus contos possuem personagens masculinos como narradores. E me parece, pelo que tenho ouvido de leitores, que essas vozes masculinas em primeira pessoa têm se mostrado verossímeis, convincentes. Não posso dizer que senti mais dificuldade na construção do Inácio Boaventura, narrador/protagonista de Liturgia do fim, e da sua voz, do que na elaboração de Duína Torrealba como narradora em Suíte de silêncios. O grau de complexidade na estruturação do discurso independe de gênero.

 

Esse livro é comparado a Lavoura arcaica, obra prima de Raduan Nassar. Como encara isso?

 

Eu me sinto honrada com essa referência à Lavoura Arcaica, romance que considero um dos melhores da nossa literatura.

 

Seus livros são marcados pela tristeza. Uma obra de arte, para tocar fundo, precisa ser triste?

 

Sempre ouvi dizer que as minhas histórias são tristes. Mas viver não é fácil. Caminhamos para a morte desde que nascemos e essa consciência é cruel para o ser humano. Além disso, ao longo da vida vamos perdendo as pessoas que amamos. Há mais dor nas pessoas do que imaginamos.

 

Você trabalha com funcionária pública para o governo federal. Como é sua rotina de escritora? 

 

Faço análise de processos trabalhistas e elaboro minutas de votos. Isso me demanda muito tempo e energia. Escrevo durante os fins de semana e, às vezes, quando não estou muito cansada, à noite.

 

Como o fato de ter nascido na Paraíba, em Campina Grande, influencia a sua obra?

 

Nascer na Paraíba me possibilitou o contato com essa natureza pujante do sertão, esse sertão que conheço tão bem desde menina, e que é o Éden, o paraíso perdido do qual Inácio Boaventura, meu protagonista foi expulso.

 

Sua escrita é magnífica, mas vivemos em um país em que a maior parte da população não tem o hábito de ler literatura. Diante dessa realidade, o que imagina para si como escritora? Onde gostaria de chegar?

 

Gostaria que a minha literatura alcançasse muitos leitores. Verdade que os brasileiros leem pouco. Não existe um hábito de leitura. Mas acredito em um Brasil maior, com mais educação, mais leitores. Um dia vamos chegar lá! E nesse dia não haverá mais miséria.

 

Por Valéria Martins

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