Escrita com alma

As lembranças da infância, dos pais e da vida em família na escuna que era a casa do Sítio de Cima, ao pé da serra em Minas Gerais, são o ponto de partida do novo romance da escritora mineira Geny Vilas-Novas, “Todo dia é domingo” (Ed. 7Letras). Para quem já leu os outros romances da autora, este livro é mais uma peça de um quebra-cabeça que remonta uma vida, ou muitas. Para quem ainda não conhece a obra de Geny, é ótima porta de entrada para um universo de encantamento com aquilo de melhor que a literatura pode oferecer. Leiam a entrevista com a escritora.

 

No estudo introdutório de “Todo dia é domingo”, o professor Antônio Olinto, membro da Academia Brasileira de Letras, a compara a Guimarães Rosa: “Com este livro, revela Geny Vilas-Novas uma nova área do Brasil, tal como fizera Rosa em Grande Sertão: Veredas”. Como se sente quando comparada a um dos maiores escritores da Literatura Brasileira?

 

R: Assustada, muito assustada. Quando meu professor de técnica literária Ivan Cavalcante Proença falou que a minha literatura estava entre a dos melhores escritores mineiros, eu fiquei olhando para o piso da sala dele, não tinha coragem de levantar os olhos do chão, ele completou: e os melhores escritores, desde os Inconfidentes, e olha que eu conheço os mineiros.

Quando me sento para escrever, não penso em nada, apenas no que estou escrevendo.

 

A natureza é personagem intrínseco dos seus livros, seja nas descrições das paisagens, seja em metáforas, seja como recurso para pontuar as histórias. Qual a importância do convívio com a natureza na infância para a construção da sua literatura hoje?

 

R: Não sei. Sei que a natureza é muito importante, conviver com ela foi e é um privilégio, mas se eu tivesse nascido em Paris, em Roma, no Rio de Janeiro ou São Paulo beberia em outras fontes. A minha sede é grande e se não escrever eu morro. Buscaria a praça da Sé, a Cracolândia, a região dos Jardins. A floresta da Tijuca, a Delfim Moreira, o mar. Os estivadores do cais do porto.

Daria um jeito.

 

Novamente Antônio Olinto: “Em Todo dia é domingo, Geny Vilas-Novas nos devolve um Brasil que era nosso e não sabíamos, num retrato do interior que se mostra por inteiro”. Ao escrever tem em mente um objetivo, como sugerido por Olinto, ou deixa a escrita acontecer “distraída” como dizia Clarice Lispector?

 

R: A literatura se dá, é ela quem escreve os meus livros. Eu escolho o título e ela faz o resto.

 

Seu romance “Fazendas ásperas” e o infantil “Uma história dentro da outra e lendas do Rio Doce” foram merecedores de menção honrosa no Concurso Internacional de Literatura da União Brasileira dos Escritores RJ (2018), e seu conto “Três Marias” recebeu menção honrosa no Concurso Adélia Prado da Academia Feminina Mineira de Letras em 2019. Como essas homenagens afetaram sua carreira de escritora?

 

R: É de extrema importância, mas não afetam meu trabalho em nada. Continuo a mesma pessoa. Entrego-me tão completamente, que não há espaço para mais nada, apenas o que estou fazendo.

 

Na hora de receber o prêmio me sinto plena, completa, feliz, mas passa. Parece um milagre, tão misteriosamente como chega, se esvai. São momentos céleres, fugazes, mas as noites insones, as muitas horas ininterruptas de trabalho extenuante são tenazes. O vento não sopra uma folha nas árvores, o suor escorre, o relógio para de bater as horas. A ideia aprisionada não vem em meu socorro. O fio da navalha a comprimir-me a garganta.

Posso garantir.

Escrever dói.

 

A senhora é convidada, pela segunda vez, da Festa Literária de Santa Maria Madalena, em agosto. Como foi a primeira experiência lá e o que espera dessa segunda participação?

 

R: Os anfitriões fazem tudo para nos agradar, ser convidada de novo é uma honra.

 

Quais são seus planos como escritora daqui para frente?

 

R: Continuar escrevendo muito é certo. Escrever é a minha vida.

Este site utiliza cookies para lhe oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar neste site, você concorda com o uso de cookies.