Coração novo e pulsante na literatura brasileira

“Um coração pulsa sobre a bancada da pia. O primeiro conto desta coletânea é uma espécie de sonho premonitório: com um realismo cortante, Rebeca Liberbaum vai dissecar o coração contemporâneo. Num estilo ágil e preciso, ela destrincha nossos ritos sociais, medos e desejos, crenças e ilusões. O drama está em toda parte. Só o humor nos protege.” Este preâmbulo do escritor e professor de Escrita Criativa João Paulo Vaz sobre o livro de estreia de Rebeca Liberbaum, “O coração e outras armadilhas” (contos, Ed. Patuá), dá uma ideia do talento dessa jovem escritora. Oasys Cultural convidou-a a falar sobre seu livro.

 

Os contos de “O coração e outras armadilhas” versam sobre temas e personagens variados, mas percebemos algo que os alinhava e reúne. Em sua opinião de autora, qual é o espírito desse livro?

 

R: O espírito do livro, pra mim, é aquilo que nos faz humano. A solidão, a morte, o medo, a separação. É uma tentativa de chegar perto de um lugar desconfortável dentro de nós, sem deixar de lado um pouco de humor e leveza.

 

Dentre os contos do livro existe algum ou alguns de que gosta mais? Caso sim, quais são e por quê?

 

R: Acho que meu conto preferido é “Até sexta-feira” porque amo a personagem. E acho que a amo porque ela é muito verdadeira, e talvez também porque algo dentro de mim teme um dia virar essa personagem – a velhice e a solidão me assustam um pouco.

 

Você é formada em Política, Filosofia e Economia na Universidade de Pensilvânia, Estados Unidos. Onde andou a sua literatura nesse tempo em que esteve fora? Como manteve viva a conexão com a Língua Portuguesa?

 

R: Fiz muitas disciplinas de literatura e escrita criativa na faculdade. Quando terminei meus estudos e fui trabalhar num banco em Nova Iorque ficou difícil de acompanhar a literatura brasileira, até por falta de acesso a livros daqui lá fora. A verdade é que nesses dez anos que estive fora foquei em ler clássicos mundiais. Quando digo clássicos não é só coisa antiga, mas livros que todo autor (e todo mundo que gosta de ler!) deve conhecer. O quanto mais a gente lê e aprende mais a gente vê que falta muito. Quando meus pais vinham me visitar eles traziam na mala uma porção de livros brasileiros, reclamavam do peso.

 

O conto “A hora perigosa” tem epígrafe de Clarice Lispector. Essa autora é uma referência na sua trajetória de leitora e escritora? Além dela, quais outros autores?

 

R: Sim, comecei a ler Clarice cedo, antes da minha alma estar formada (e ainda não está, confesso). Sempre preciso voltar a ela, são muitas camadas, cada vez descubro mais uma. Gosto demais de Caio Fernando Abreu, Alice Munro, Lydia Davis, Lucia Berlin, Saul Bellow, Salinger, Philip Roth. Recentemente tenho curtido a Giovana Madalosso, e outros autores novos da minha geração como Julia Codo, Mateus Baldi, Jarid Arraes. Tem muita gente escrevendo coisa boa no Brasil no momento.

 

Você foi aluna de grandes mestres de Escrita Criativa como Luiz Antônio Assis Brasil, Luiz Paulo Vaz e Noemi Jaffe. Acredita que participar de cursos e oficinas de escrita literária podem realmente ajudar a lapidar o talento para escrever?

 

R: Com certeza. É necessário que os outros alunos e o professor sejam honestos, não tenham vergonha nem medo de dizer a verdade: o que está ruim, o que precisa ser melhorado. E quem recebe a crítica precisa estar de peito aberto para recebê-la. Assim é que a gente consegue melhorar, progredir.

 

Quais são seus planos como escritora? Onde gostaria de chegar?

 

R: Comecei a escrever um romance, mas achei ruim, joguei fora e agora estou pensando se ainda dá para retomá-lo. Vamos ver. Onde quero chegar: no meu melhor, ter certeza que dei tudo, aprendi ao máximo, li tudo que podia ler, dediquei tempo suficiente à escrita. Ainda tem muita coisa pela frente.

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