O romance de estreia da escritora Julia Barandier, publicado pela Ed. 7Letras, transita por diferentes estilos, pontos de vistas e gêneros literários para contar a estória de Antônio, brasileiro de meia idade, que após se divorciar, decide recomeçar a vida em Copenhagen, Dinamarca, e do encontro dele com Hans, um pintor dinamarquês. O título “Bakken” é o nome do primeiro parque de diversões do mundo, que fica em Copenhagen e é mencionado algumas vezes ao longo do romance. Leiam a entrevista com a autora.
Você é uma escritora tão jovem e escreveu um romance de temática sóbria e madura. Conte um pouco da sua formação pra gente.
R: Acho que me tornei leitora muito cedo e isso com certeza teve um impacto enorme na minha relação com a escrita. Desde muito criança, meus pais sempre leram para mim, me deram livros e incentivaram programas culturais, como cinema, teatro, museus, música, arte em geral. Na adolescência eu já lia bastante, então cheguei na faculdade com o maior gás, muito apaixonada pelo curso. Na PUC-Rio, comecei a cursar Bacharelado em Produção Textual e Bacharelado em Literatura (português e inglês) e minhas leituras foram se expandindo.
Bakken é o nome do primeiro parque de diversões do mundo, na cidade de Klampenborg, Dinamarca. Você visitou esse local? Em que circunstâncias? Foi então que decidiu escrever o livro?
R: Eu visitei Bakken em 2019, quando estava fazendo um mochilão com um amigo. A Dinamarca entrou no nosso roteiro porque ele tinha um conhecido em Copenhague, que ofereceu a casa para a gente. Quem me apresentou ao Bakken foi esse amigo, o que, parando para pensar agora, tem tudo a ver com a minha estória. Eu sempre ando com um caderno na bolsa e compro cadernos mais especiais quando vou viajar. Toda noite na Dinamarca, então, eu fazia um pequeno resumo do dia. Não imaginei, durante a viagem, que aquelas anotações se transformariam em outra coisa. Para mim era mais um diário mesmo. A ideia de usar essas anotações para a construção de um romance veio bem depois, quando criei o personagem Antônio e resolvi revisitar esse caderno.
“Bakken” transita por diferentes estilos, pontos de vistas e gêneros literários. Como desenvolveu esse estilo?
R: Quando comecei a escrever Bakken, eu estava bastante imersa no estudo de arquivos literários. Quanto mais forte a minha relação com os arquivos ia ficando, mais eu escrevia também o romance. A escolha pelas cartas, então, não foi por acaso. Eu queria trabalhar com esses “papéis avulsos”, com esses documentos que estão sempre no limiar entre o fato e a ficção. No meio do caminho, porém, optei por uma estória mais polifônica. Percebi que as personagens ficavam mais interessantes quando estudadas de diferentes ângulos e pontos de vista. A forma e o conteúdo para mim andam juntos. O estilo talvez tenha nascido dessa percepção.
A grande maioria dos romances fala de amor. Você escolheu escrever um livro sobre a amizade. Por que?
R: O amor romântico por enquanto não é um tema que aparece muito na minha escrita. E não sei se escolhi escrever exatamente sobre amizade, talvez o livro seja mais sobre solidão. De qualquer forma, deixar o amor romântico de fora não foi algo que decidi quando comecei a escrever Bakken, mas as personagens foram me guiando para lugares onde ele não tinha muito motivo para ser introduzido. No máximo aparece como desamor.
Como é a experiência de estudar Escrita Criativa na universidade? Isso pode ajudar uma pessoa a se tornar melhor escritora?
R: A minha experiência foi maravilhosa. Tive professores incríveis, que me incentivaram e mostraram inúmeros experimentos literários que eu não conhecia. Tendo acesso a esse leque de possibilidades, me senti mais livre e segura para testar novos estilos, novas vozes. Isso foi fundamental para “Bakken”. Mas além da universidade, eu acredito que as boas oficinas de escrita em geral fortalecem muito qualquer escritor. Essa troca com outras pessoas que escrevem e gostam de literatura às vezes é o incentivo que falta para a gente sair um pouco da zona de conforto e se arriscar em projetos mais longos. Não consigo ficar longe de uma oficina, foi assim que aprendi que escrever não é necessariamente solitário.
Quais são seus planos para mais adiante?
R: Talvez essa seja uma resposta um pouco sem graça, mas continuar escrevendo, estudando, lendo. Quero seguir com a vida acadêmica, com os grupos de pesquisa, começar novos romances e quem sabe finalmente aprender a pintar um pouquinho.