A beleza sem regras da Poesia

“A beleza sem regras de Copacabana” é o quinto livro do escritor Igor Dias, e marca seu retorno à poesia. Publicado pela Editora Revista Philos com ilustrações do artista plástico William Mattos, a obra é uma ode ao universal bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, mas também reúne muitos poemas caprichados sobre o amor, a vida e o mundo, alguns deles em forma de sonetos fechados na forma e abertos no conteúdo. Leiam a entrevista com o autor.

 

Seu primeiro livro foi o volume de poesias “Além dos Sonetos Breves” (2012). Depois vieram, contos, um romance e até um livro de ensaios. Por que esse retorno à poesia agora?

 

R: Penso que o modo como escrevemos reflete de alguma maneira o modo como encaramos a própria vida. Quando mais jovens, queremos explorar tudo e desbravar novos caminhos, e curtimos muito o processo da experimentação. Em algum momento, porém, sentimos a necessidade de algum retorno a coisas muito nossas, e que nos são muito caras: mais do que a novidade, a busca agora é a de um certo refinamento em cima de experiências que já foram positivas em algum momento. Nesse processo, emerge um retorno à poesia, além de algumas releituras também. Um exemplo disso é o poema “Um villanelle bem casmurro”, que consta deste novo livro e que nasceu de uma releitura que fiz de “Dom Casmurro” muito tempo após lê-lo pela primeira vez. O livro é do século XIX, minha primeira leitura foi feita no século XX, a releitura é do século XXI, e o villanelle, a forma que usei para construir esse poema, remonta ao século XVI. Nada melhor do que a poesia – tradicional e contemporânea  ao mesmo tempo – para podermos manejar essas tensões entre novidade e retorno.

 

Copacabana é um bairro carioca que se tornou universal. É um lugar mítico, sonhado e visitado por gente de todo o mundo. Como é a beleza sem regras de Copacabana?

 

R: Essa beleza está no azul do mar, nas ruas movimentadas, no barulho dos carros, no silêncio dos recantos escondidos, na ressaca que irrompe das ondas, no traçado das ruas que seguem a curva da praia, no icônico calçadão em branco e preto. Mas essa beleza também está em cada cidade, está no gesto de cada pessoa, está nas plantas que cuidamos em casa, está nos olhos de uma noiva que abandona o casamento no meio do altar. Os poemas do livro “A beleza sem regras de Copacabana” apresentam essas situações e outras tantas mais. Dessa forma, o bairro mais conhecido da América Latina é apenas um caso particular dessa coisa inefável a que chamamos beleza, e que está em todas as coisas.

 

Sua poesia é bem contemporânea, mesmo assim, alguns dos poemas do livro são sonetos. Qual é a importância da forma na sua poesia? E por que sonetos?

 

R: A poesia é uma eterna lida do autor com a linguagem. Forma e conteúdo, longe de serem dois aspectos pensados de maneira individual, estão completamente imbricados na construção de sentido de um poema. O que me encanta nas formas fixas, em especial os sonetos, é o modo como eles podem ser repensados na contemporaneidade. Posso usar a mesma estrutura de rima e métrica que Camões utilizou há quinhentos anos, mas não preciso falar do amor romântico. Consigo usar essa estrutura de sonetos para falar de arte contemporânea, funcionamento de computadores e discussões sobre gênero e sexualidade. Usar formas velhas para falar coisas novas – é isso o que busco. O estranhamento entre forma e conteúdo cria uma harmonia nova na construção dos poemas, uma beleza sem regras.

 

Vários de seus poemas falam de lugares além-mar. Viajar inspira e move o poeta?

 

R: Viajar é bom e, sem dúvida, inspirador. Mas não acho que isso seja uma condição para a construção dos poetas. Em um cenário de pandemia em que precisamos ficar tanto tempo em casa, e também em um cenário de retração econômica que tornou todas as viagens mais caras, penso que o importante mesmo é valorizar as viagens com os recursos que temos à mão: livros, imaginação e memória. Com esses três itens somos capazes de montar viagens inquietantes e excêntricas, seja na arrebentação, mar adentro ou além-mar (ou, como diria Letrux – ressaca, quebra-mar e marolinhas).

 

Também há poesias sobre a morte e uma delas sobre o “juízo final”. Acredita que acontecerá um dia? O esgotamento dos recursos naturais o preocupa?

 

R: Certa vez vi uma entrevista de Caetano Veloso em que ele dizia não se preocupar muito com a morte porque “se eu sou, a morte não é; e se a morte é, eu não sou.”. Gosto bastante desse jeito de pensar. Outro posicionamento interessante foi o de Marquês de Pombal, no grande terremoto que se abateu sobre Lisboa no século XVIII. Enquanto muitos portugueses choravam seus mortos e pensavam nas questões metafísicas e religiosas sobre a encomenda das almas e a ascensão aos céus, o Marquês de Pombal orientou sua ação para cuidar dos vivos. Considerando as previsões mais apocalípticas do fim da humanidade, e considerando também as mortes cotidianas que nos assolam diariamente (não apenas a morte física, mas tudo o que sentimos perder a cada dia), penso que escrever poesia é também trazer um alento a quem fica, é algo como cuidar dos vivos.

 

O que gostaria de alcançar com “A beleza sem regras de Copacabana”?

 

R: Quero que este livro possa fazer as pessoas experimentarem sem regras a beleza; e que possam encontrar nessa Copacabana – mítica e concreta entre o mar e o asfalto – um refúgio.

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