Roberta Lahmeyer faz uma ligação poética entre leitura e escrita. Os livros lidos
transformam-se em títulos para os poemas escritos. Num deles, “Biblioteca de Babel”, estão todos os autores dos livros-títulos, com citações que seguem uma lógica intertextual e amplificam ainda mais o sentido de “Pés fictícios”. Nas palavras do escritor português Gonçalo M. Tavares “é uma bela ideia e homenagem à literatura e com belos poemas”. Leiam a entrevista com a escritora.
Seu livro de poesias é uma homenagem à literatura brasileira e universal. Era um plano que fosse assim ou aconteceu naturalmente?
R: Durante o processo de criação de “Pés fictícios”, surgiram duas ideias centrais, dar aos poemas títulos que viessem de livros, e ter um poema, “Biblioteca de Babel” de Jorge Luis Borges, onde estivessem todos os autores desses livros-títulos, com suas citações, organizados em ordem alfabética.
“Os livros lidos se transformam em títulos para os poemas escritos”. Como se deu essa dinâmica?
R: Eu já tinha vários poemas escritos e, durante uma leitura, percebi que o título do livro que eu estava lendo encaixava-se perfeitamente em um deles. A partir desse acontecimento surgiu a ideia de dar títulos de livros da minha biblioteca, que haviam sido lidos por mim, a todos os poemas.
O poema “Biblioteca de Babel” reúne todos os autores dos livros-títulos, com citações que seguem uma lógica intertextual. Isso é bastante complexo. Como este poema foi concebido?
R: Tem uma frase da Marguerite Duras que faz muito sentido para mim: “E ler era escrever”. A decisão de seguir uma lógica intertextual, onde as citações dialogam entre si, e com os poemas, só se revelou possível em consequência dos rastros que minhas leituras deixam. Eu leio sublinhando, sinalizando, escrevendo nas margens etc. Penso que a força do poema “Biblioteca de Babel” vem dessa relação profunda com os livros, e se ela não existisse teria sido impossível materializá-lo.
Explique o título, “Pés fictícios”. Ou não tem explicação?
R: É o título do poema que finaliza o livro com palavras que continuam em movimento. E, da mesma forma que os títulos dos outros poemas vieram de algum livro, esse veio de um verso do “Retas oblíquas”.
“Pés fictícios” compõe uma espécie de trilogia com seus livros de poesias anteriores, “Singularidade” (2013) e “Retas oblíquas” (2018). Como se sente com esta terceira obra publicada?
R: Os dois livros anteriores, “Singularidade” e “Retas oblíquas”, apesar de serem
independentes entre si, formam um díptico. São complementares, têm características semelhantes, especialmente, a presença de poemas visuais. Este terceiro livro dialoga com eles, também é de poesia, mas tem um sentido diferente. No meu imaginário é como se ele construísse uma espécie de ponte metafórica que o liga à ficção que está por vir. É nessa direção que esses “Pés fictícios” caminham.