Garret – não usar a pronúncia francesa, “Garré”, mas sim a brasileira, “Garrete”, senão o protagonista fica bravo –, inicia o livro tendo que vestir seu pai morto. Ele é de um tempo em que não se via os pais sem roupa. É preciso agir rápido para que o corpo não enrijeça. A cena é dramática, mas o tom de comédia perpassa todo o romance de João Carlos Viegas, experiente jornalista, roteirista e radialista que agora se dedica à Literatura. De causo em causo, de delírio em delírio, acompanhamos a realidade paralela inventada por Garrete para escapar do cotidiano que lhe entedia. Personagens icônicos, cenários oníricos e desfechos improváveis, amarrados pela escrita coloquial e envolvente de Viegas, tornam este romance curto uma experiência vertiginosa que diverte e faz pensar. Leiam a entrevista com o autor.
“O Terceiro Cúmplice” é narrado em primeira pessoa e a voz de Garrete é tão próxima que parece nos falar no ouvido. Como desenvolveu a voz desse narrador?
R: Imaginei um fluxo de pensamento que me colocasse na cabeça do leitor. A voz do narrador é como o pensamento de quem está lendo e cabe ao leitor organizar as mensagens que vão fluindo. No meu livro, leitor tem voz e vez.
O protagonista é um contador de histórias aparentemente aleatórias. Como foi o processo de escrita do livro: deixou fluir ou havia um encadeamento previsto?
R: Havia uma história que imaginei ir montando como num jogo. Aliás, isso dá um viés lúdico ao romance. Além do conteúdo, procuro construir uma forma que seja adequada a uma leitura contemporânea. Acredito que consegui isso em “O Terceiro Cúmplice”.
Você é roteirista experiente tendo participado das equipes dos programas Chico Anysio Show e da Escolinha do Professor Raymundo. Foi desafiador, para você, desenvolver uma escrita literária?
R: A literatura veio primeiro na minha vida. Como roteirista de rádio e tevê, procurei levar a carpintaria literária para esses veículos. Portanto, meu desafio maior é não deixar de lado a literatura em outros meios aos quais me dedico.
Com o romance “Segura essa, J.D.Salinger!” você conquistou o primeiro lugar no Prêmio Literário Cidade de Manaus. Quais são as suas expectativas para o livro atual?
R: O prêmio me deu a chance de publicar “Segura essa, J.D.Salinger” em Portugal e espero abrir espaços no Brasil com “O Terceiro Cúmplice” e onde o romance puder chegar. Eu quero ser lido e “O Terceiro Cúmplice” (muito bem-produzido pela Editora Patuá) pode me levar a um maior número de leitores. Acredito nisso.
Quem é o terceiro cúmplice?
R.: (risos) Essa é a resposta milionária. Para falar a verdade, nem eu sei quem é. Desconfio, mas não dou spoiler. Aguardo o leitor descobrir.