O pai que perde sua criança na praia; uma breve história de amor e crime no cerrado brasileiro; um pescador às voltas com a escassez de peixes no mar; o filho imerso em memórias do pai, à procura de entendê-lo, apreendê-lo. Os contos de “Fidelidade das araras”, novo livro do escritor Adilson Zambaldi, falam de amores, dores e alguns abordam – com leveza e até humor –, situações críticas no nosso meio ambiente, levando-nos a refletir sobre as escolhas da humanidade até agora. Leiam a entrevista com o autor.
Os contos de “Fidelidade das araras” são curtos e sucintos. Para você, em Literatura, menos é mais?
R: Procuro buscar a exatidão das palavras e a expansão do que está sendo narrado. Menos é menos. Mais é mais. Trabalho com o que acredito ser necessário para estabelecer um pacto, mesmo que ambíguo, com os leitores e leitoras. Nada é o que realmente é. A fidelidade das araras é uma relação estabelecida pelo não dito, causa-efeito das narrativas breves.
Em alguns contos – “Você lê?”, “Agosto”, “Augusto vai à lona” –, o modo de narrar varia e dialoga com o tema. Essas variações são pensadas antes? Ou ‘acontecem’ na hora da escrita?
R: Penso que a linguagem deve favorecer o enredo. Acabo partindo sempre de um acontecimento (ficcional ou não). Uma imagética que pode aparecer em algum trecho da narrativa ou simplesmente ser suprimida com o avanço da escrita. Assim como Cortázar compara o conto com a fotografia, penso que isso também ocorre comigo. Antes da definição de enredo ou linguagem, trabalho o instante, o clique. Depois do suspiro criativo, vem todo um trabalho de lapidação do enredo e da escolha da linguagem mais apropriada para a narrativa.
Você é pós-graduado em Formação de Escritores pelo Instituto Vera Cruz (SP) e teve aulas com Julián Fuks, Marília Garcia e Fabricio Corsaletti, entre outros professores. O quanto isso foi importante?
R: “O leitor que agora entra nos domínios deste livro será presenteado com um trabalho de escrita que combina talento criativo e rigor técnico na composição da forma breve”. Estas palavras inaugurais do Sérgio Tavares, no texto de apresentação do “Fidelidade das Araras”, dizem muito sobre a minha busca enquanto autor. Oficinas de escrita criativa, assim como a pós-graduação em Formação de Escritores (ISE Vera Cruz), fazem parte deste desejo de apuração do meu fazer literário. Poder dividir processos e dialogar com meus pares, conhecer novas técnicas e ainda contar com a orientação de grandes nomes da literatura, enriquecem e aprimoram o talento. A literatura não é feita apenas de boas histórias, é preciso também a técnica no desenvolvimento narrativo.
Como é a vida de um escritor iniciante? É difícil encontrar um lugar ao sol? Como lida com isso?
R: Um escritor iniciante conta com o anonimato. Isso é ótimo, pois permite erros e experimentos sem grandes consequências. Mas por outro lado, chega um momento em que você precisa revelar sua obra, abandonar o ninho e voar. É o que vem acontecendo com o lançamento do “Fidelidade das Araras”, os contos estão alcançando seus leitores e o livro, seu espaço nas estantes das livrarias. Gosto do movimento das livrarias de rua em São Paulo, da abertura destes espaços, mais informais, para os autores e autoras que fazem a novíssima literatura brasileira. Também sou um entusiasta dos clubes de leituras, eles têm um papel importante na formação de novos leitores e favorecem o diálogo com as obras.
Tem um novo trabalho em curso agora? Quais são seus planos como escritor?
R: Sim, venho praticando a escrita autoral com mais intensidade nos últimos anos. Adoro o processo de escrever, digitar as palavras e dar vazão aos pensamentos. Fazer literatura é cativante. Tenho um projeto de narrativas breves quase finalizado, ainda sem previsão de lançamento. Também iniciei as primeiras páginas de um romance. Pretendo trabalhar neste projeto pelos próximos anos.