Em seu novo livro, Raro – poemas de Eros, o poeta William Soares dos Santos faz uma evocação a Eros (o deus do amor na mitologia grega) e seus versos surgem como oferendas ao deus antigo. O volume é dividido em quatro partes. Livro I – Raro reúne poesias plenas de sensorialidade; Livro II – Releituras erotizadas, como diz o título, contém releituras de poemas clássicos transformados em versos eróticos; Livro III – Algumas histórias faz referência a casais cuja relação alimentou o imaginário do mundo ocidental: Tristão e Isolda, John Lennon e Yoko Ono, entre outros; e o Livro IV – Poemas breves é composto de poemas curtos dedicados ao pós-amor, a tranquilidade de ter amado e a certeza de que, como em Drummond, amar se aprende amando.
Desde sua estreia em 2015, você publicou quatro livros, foi vencedor de um prêmio Literário (Pen Clube do Brasil) e finalista de outro (Prêmio Rio de Literatura 2018). Para um escritor, são passos rápidos. Como explica esse fenômeno?
R: Começo a explicar que não foram passos rápidos. Meu primeiro livro, o “Rarefeito” foi publicado quando eu tinha quarenta e três anos. Fiquei muito tempo maturando aqueles poemas e hoje percebo que eles poderiam ser muito mais trabalhados. O livro “Poemas da meia-noite (e do meio-dia)”, que é, até agora, o meu trabalho de maior repercussão, por ter ganhado o Prêmio Pen Clube do Brasil, por ter ficado entre os finalistas do Prêmio Rio deste ano e, sobretudo, pela boa resposta do público, também foi fruto de vários anos de dedicação. Só o trabalho de edição e de pesquisa de imagens do corpo do livro durou mais de um ano. O meu último livro, o “Raro – poemas de Eros”, têm trabalhos escritos há pouco tempo, mas há, também, poemas que já estou escrevendo há mais de vinte anos. Admiro quem faz um caminho rápido e acho até que há bons escritores que, muito jovens e em suas primeiras publicações, alcançam merecidamente o reconhecimento de leitores, de seus pares e da crítica (o caso exemplar é o de Jean-Nicolas Arthur Rimbaud), mas essa não é a minha história. Assim, não foram passos rápidos. Há anos de trabalho por trás de cada livro que consigo publicar.
Raro é dividido em quatro partes com temáticas como: sensorialidade, releituras de poemas clássicos, poesias para casais inspiradores da nossa História e haikais modernos. Quando escreveu as poesias deste livro já as imaginava organizadas dessa forma?
R: Não. O material foi se constituindo de forma mais ou menos aleatória até que, em um determinado momento de sua configuração, percebi que havia sub-temas dentro do conceito maior que é o erotismo. Espero que a divisão do livro contribua para a melhor apreciação estética do trabalho por parte do leitor.
Você foi convidado a escrever um poema inédito para a Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras (edição julho, agosto e setembro 2018). Como surgiu este convite e como concebeu a poesia publicada lá – um poema longo, diferente dos demais já publicados em seus livros?
R: Dentre uma das maiores belezas de ser escritor é a possibilidade de ser lido e de compartilhar a sua escritura nos diversos canais que o mundo contemporâneo nos proporciona. Sempre fico muito feliz de poder participar em publicações no Brasil e em outras partes do mundo sempre que isso seja possível e é com grande alegria que estou tendo a oportunidade de publicar um de meus poemas nesta linda e importante publicação que é a Revista da Academia Brasileira de Letras. O poema, como você observou, é um pouco diferente da minha produção usual, primeiramente, porque é um poema longo e, em segundo lugar, porque trata de uma questão humanitária do nosso mundo atual, que é a imigração Síria, ocasionada pela guerra. A concepção do poema se deu à medida que eu acompanhava o triste desenvolvimento daquele conflito através da mídia. Infelizmente, como escritor, a minha contribuição a qualquer questão humana é muito limitada, mas se o texto ajudar o leitor em suas reflexões sobre o assunto, eu já terei feito a minha pequena parte. É importante dizer que este texto saiu, ao mesmo tempo, no mesmo mês, em uma edição especial da Revista Gueto com o tema “degredo”.
A um poeta iniciante, como você foi um dia, que conselhos daria para almejar uma carreira rápida e brilhante como a sua?
R: Primeiramente, peço para que leia a minha resposta à primeira pergunta. Lá eu digo que, geralmente, não há um caminho rápido para o reconhecimento literário. Em segundo lugar, longe de ser “brilhante”, estou apenas começando a minha carreira. Em terceiro lugar, devo confessar que eu não posso dar conselhos a ninguém, dentre outros motivos, porque sou eu mesmo, justamente, um poeta iniciante. O que posso fazer, no momento, é compartilhar uma humilde reflexão que aprendi com um de meus professores: há no pensamento taoísta (japonês) um conceito denominado de “shoshin” (初心), que significa, exatamente, “manter a mente de um iniciante”. Trata-se de desenvolver um estado de consciência para se ver as coisas como se fosse a primeira vez. Essa atitude possibilita a todo o escritor, notadamente aquele que lida com poesia, manter-se aberto ao mundo que está à sua volta e a recriá-lo através de sua escrita de um modo inusitado. Com o tempo, percebi que os escritores que admiro, de um modo ou de outro, mantêm a mente de um iniciante. Tento, apesar de minhas limitações, fazer o mesmo.
– Valéria Martins