Uma escritora corajosa

Narrado com delicadeza e segurança, “A coragem de Lina” (Ed. Ases da Literatura), livro de estreia de Tássia Hallais, mestre e doutoranda em Literatura Brasileira pela UERJ, aborda o tema do abuso sexual infantil de um jeito que toda criança é capaz de entender. É um livro para ser lido, preferencialmente com um adulto. Lembrando que “Ler junto” é a maneira mais eficaz de formar leitores. Leiam a entrevista com a autora.

 

Abuso sexual infantil é um tema espinhoso. Por que o elegeu para sua estreia na literatura infantiljuvenil?

 

R: Acredito que a literatura, de maneira geral, é diversão, mas que também tem uma potencialidade muito grande de nos ensinar, nos fazer questionar o estado das coisas e transformar a realidade. Para mim fazia sentido estrear no infantojuvenil com um tema que considero relevante e necessário.

 

Foi difícil escrever “A coragem de Lina”? Em algum momento achou que poderia “errar a mão”? Houve muitas reescritas?

 

R: Não foi difícil escrever, mas o original passou por um leitura crítica de uma especialista em infantojuvenil, além da avaliação da própria editora Ases da Literatura e do copidesque da minha agente literária, Valéria Martins. A história em si não mudou, mas foi revisada algumas vezes a fim de deixar o texto mais fluido, melhor.

 

O personagem da vovó Juju é um catalisador na história. É também uma homenagem a todas as avós e seu jeito especial de conversar com os netos. Você se inspirou em alguém para cria-la?

 

R: Me inspirei na minha avó Lili e na minha bisa Bel. Foram duas mulheres muito presentes e importantes na minha infância e adolescência.

 

Quais livros da literatura infantil brasileira a formaram como leitora?

 

R: Eu era apaixonada pelos gibis da Turma da Mônica, do Maurício de Souza, mesmo antes de saber ler. Também era fã das histórias do Pedro Bandeira, a quem eu sonho conhecer. Um dos meus livros favoritos da pré-adolescência foi “O rock das estrelas”, do Carlos Queiroz Telles. Em termos de poesia me lembro de ter gostado muito de “Ou Isto ou Aquilo”, da Cecília Meirelles. Eu sempre gostei bastante de ganhar livros.

 

Você é mestra em Literatura Brasileira pela UERJ e estudou o romance “Úrsula” de Maria Firmina dos Reis, o primeiro escrito por uma mulher negra no Brasil. O que este livro traz de atualidade para o momento que vivemos hoje no Brasil e do mundo, de revisão das questões de raça?

 

R: “Úrsula” é um livro corajoso, assim como sua autora o foi. É considerado o nosso primeiro romance abolicionista, pois se posiciona claramente contra a escravidão, dando inclusive voz aos negros para falar sobre os seus sofrimentos. Apesar de sua escrita poder soar “melodramática” para os padrões atuais, acredito que é um romance importante de ser lido e trabalhado no ensino médio, pois nos leva a refletir sobre o quanto as coisas mudaram, mas de certa forma parecem iguais. O Brasil ainda é um país extremamente racista, com a maioria da população pobre sendo negra e com uma violência estrutural baseada na cor da pele.

 

Quais são seus planos como escritora?

 

R: Fazer a Lina conquistar o mundo! Acredito muito no potencial deste livro, na sua relevância para fomentar um debate necessário sobre abuso infantil. Fora que é um livro muito bem ilustrado pelo Junior Marques, com edição ótima da Ases da Literatura e uma história que é séria, mas também acolhedora e lúdica. Quero ver muitas crianças tendo acesso ao meu livro, inclusive nas escolas. Gosto de pensar que a literatura para crianças e adolescentes pode divertir e, ao mesmo tempo, informar. Também pretendo lançar outros livros para esse público e tenho uma história em desenvolvimento.

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