Uma aldeia viva e cheia de amor

Em seu primeiro romance, a escritora Adriana Vieira Lomar, tece, como se fossem bordados delicados, uma história densa, que emociona e faz refletir sobre o porquê de nascer, viver e morrer – o destino de todos nós. O narrador de “Aldeia dos mortos” é um feto que percebe tudo ao seu redor. Alguém que se propõe a uma difícil missão: interferir na História, apesar de não ter ainda nascido, para aliviar o sofrimento de sua mãe. Adriana Vieira Lomar nasceu carioca por acaso, cresceu em Maceió (AL) e escolheu o Rio de Janeiro para morar. É integrante dos coletivos literários Os Quinze e Caneta, Lente & Pincel e professora de yoga. Leiam a entrevista com a artista.

 

 

“Aldeia dos mortos” tem como protagonista e narrador um feto. De onde surgiu essa ideia e como foi desenvolvê-la, visto que um feto, teoricamente, nada sabe, ainda não nasceu?

 

 

R: Testei vários narradores, e o narrador-personagem foi o mais apropriado, a melhor forma de contar.

 

 

Antes de “Aldeia dos mortos” você publicou o volume de poesias “Carpintaria de sonhos”. Como foi a experiência de escrever seu primeiro romance?

 

 

R:  Percebi minha veia de romancista a partir da minha experiência como contista. Os contos que tinha vontade de prosseguir e que não me dava vontade de terminar com ‘socos’ e surpresas.

 

 

Você foi aluna em algumas oficinas literárias. Isso realmente ajudou a aperfeiçoar sua escrita? Como?

 

 

R: Sim, e ajuda até hoje. Adoro as oficinas, comecei com o atelier de escrita Vera Bensalah, depois fui aluna assídua da Estação das Letras. Tive como professores: José Castelo, Elias Fajardo, Ondjaki e Ana Letícia leal.

 

 

Você participa de alguns coletivos de escritores, Os Quinze e Caneta, lente & pincel.  Qual é a importância dessa atividade para você como escritora?

 

 

R: Fundamental escutar a si e ao outro. O ato da escrita é solitário e árduo e esse retorno de vozes é fundamental para que possamos aprimorar mais e mais o texto. Uma alquimia de sentidos e de forma. A humildade de deixar o seu texto ser lido e criticado por outros e a generosidade de mostrá-los depois da lapidação.

 

 

Você é formada em Direito e atua no funcionalismo público, mas já fez cursos de roteiro, arte e literatura contemporânea, e ainda fez formação em yoga. Como esses vários interesses convergem para sua carreira de escritora?

 

 

R: Costumo dizer, fiz Direito para pagar as contas, Literatura como dom e Yoga para manter o foco. Muitos me perguntarão: precisava se formar em Yoga?

Tenho uma relação com o Yoga desde a infância, da mesma forma que eu tenho com a escrita. Sempre preferi escrever a falar. Escrever e meditar para mim são sinônimos.

Meditação deve ser entendida como a compreensão e o aprofundamento do eu e do mundo que o cerca. Meditar não é sinônimo de calmaria e sim a aceitação do fluxo de pensamento.

O yoga é calcado na filosofia dos Vedas, a mais antiga que se tem notícia e sempre amei filosofia de Foucault a Sartre. Entender o mundo e as pessoas é o pré-requisito para a construção de personagens e da sustentação de sua verossimilhança.

Ao escrever por longos períodos, em torno de cinco horas por dia, preciso e muito me conectar comigo mesma, do contrário sinto-me desconectada com o mundo e começo a sentir a estranha sensação de não pertencimento.

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