Maurício Melo Júnior, escritor e jornalista pernambucano morador de Brasília (DF) desde 1980, é autor de quase duas dezenas de livros entre novelas, crônicas e infantojuvenis. Lançou em 2018 seu primeiro romance, “Noites simultâneas”, pela Editora Bagaço. Em 2019 mais dois livros de sua autoria saem do prelo: o novo romance, “Não me Empurre Para os Perdidos”, menção honrosa no Prêmio Sesc de Literatura de 2016 (Ed. Patuá), e “A biblioteca da Traça Teca”, infantiljuvenil (Ed. Mais Amigos). Ele também é o curador da 35ª Feira do Livro de Brasília, a ser realizada de 6 a 16 de junho, e grava mais uma temporada de seu programa de entrevistas, “Leituras”, na TV Senado Federal. Nada disso cansa Maurício, porque, afinal, Literatura é o que ele ama fazer.
A primeira versão de “Noites simultâneas” data de 1988 e chamava-se “Medo”. Mais de vinte anos depois você voltou àquele original antigo e rescreveu a história. Por quê?
R: As desgraças – para usar um termo de Graciliano Ramos – da ditadura militar sempre me inquietaram. Quando escrevi a primeira versão do romance, fiquei bastante insatisfeito com o resultado e deixei o original repousando. Quando o reencontrei, reli e continuei detestando o texto, mas o enredo ainda me inquietava. E daí veio a decisão de reescrever. Foram 11 novas versões até chegar ao ponto de agrado.
Você escreve contos, crônicas, livros infantojuvenis, mas “Noites simultâneas” é o seu primeiro romance publicado. O que o gênero romance permite dizer que não pode ser dito por outro gênero?
R: O romance permite se debruçar com maior cuidado e atenção sobre um tema, mas, por outro lado, também é mais passível de equívocos. Daí a necessidade de reescrever incansavelmente até que todas as arestas tenham sido aparadas, todos os conflitos resolvidos.
Em “Noites simultâneas” encontramos um casal no nordeste brasileiro que se engaja na luta armada contra a ditadura, um dos períodos mais conturbados do nosso país. O que essa ferida na história brasileira pode ensinar ao presente?
R: Essa ferida é uma lição permanente em nossa consciência. A brutalidade promovida pelo estado, durante aquele período, mostra a fragilidade de todos os cidadãos. Todos os direitos podem ser desrespeitados pela força do poder. E a certeza disso é terrível. Por isso é preciso resistir e denunciar sempre.
Você nasceu em Pernambuco e foi testemunha do Movimento Armorial, uma iniciativa artística de criar arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste, encabeçado por Ariano Suassuna. Como esse movimento influencia na sua escrita?
R: Culturalmente sou filho do Movimento Armorial. Foi lendo um livro de Hermilo Borba Filha, Os Ambulantes de Deus, que descobri que a literatura acontecia em meu quintal. Todo cenário da novela se passa em Palmares, Pernambuco, onde morava então. Hermilo não chegou a participar de fato do Armorial, mas construiu as pontes necessárias às sacadas de Ariano. Aliás, foi quem levou Ariano a escrever teatro.
Você é jornalista da TV Senado e por 13 anos dirigiu e apresentou o programa “Leituras”, com entrevistas com escritores importantes do país. Quais os dois momentos mais marcantes do programa para você?
R: O programa, que voltou à grade da TV Senado no ano passado, até hoje me marca profundamente. Um grande momento foi ouvir do cordelista Jota Borges que sua missão era seduzir o leitor e, em outra entrevista, claro, ouvir Lygia Fagundes Teles afirmar que sua única preocupação de escritora é seduzir o leitor. Outro momento foi ter a oportunidade e não entrevistar um ídolo, Edgar Morin, impedido que fui pela consciência de fazer um programa dedicado à literatura brasileira, de defesa da literatura brasileira.
Quais são os próximos passos na carreira de escritor?
R: Muitos projetos. Em junho lançarei mais um livro infantil, A Biblioteca da Traça Teca. Até o final do ano deve ser editado um novo romance, Não me Empurre Para os Perdidos, ganhador de uma menção honrosa no Prêmio Sesc de Literatura de 2016. Atualmente trabalho em dois novos livros. Um romance onde discuto o legado da contracultura e um livro de contos sobre Brasília e seu louco conluio com o poder.
– Valéria Martins