Recuperando a herança dos poetas ultrarromânticos, o brasiliense D. G. Ducci estreia na poesia com A alquimia da tempestade (7Letras). O livro é composto, em sua maioria, de sonetos livres e shakespearianos, que podem ser lidos isoladamente ou em sequência. Dia 27 de março é o lançamento no Rio de Janeiro, às 18h30, na Livraria 7Letras, em Ipanema. Em Brasília, a noite de autógrafos ocorre dia 6 de abril, às 19h30, no restaurante Carpe Diem.
A alquimia da tempestade é fortemente influenciada pela segunda fase do Romantismo, os chamados ultrarromânticos. Por que trabalhar com esse estilo literário no seu livro de estreia?
Pretendi que o livro pudesse ser lido de duas formas: ler os poemas, de forma independente, ou lê-los na ordem, como uma história – ainda que não sejam poemas narrativos. Essa história é de alguém que começa a escrever ainda na juventude e vai descobrindo mais sobre si mesmo e sobre o mundo, ao mesmo tempo em que aperfeiçoa sua poesia. Sentimentos intensos, idealização, egocentrismo, sensação de não-pertencimento. Essas características descrevem tanto a adolescência quanto o Ultrarromantismo.
Grande parte do seu livro utiliza sonetos, inclusive shakespearianos. Por que optou por essa forma poética e como Shakespeare inspirou o seu trabalho?
Quando comecei a escrever, ainda na adolescência, tive basicamente três influências: meu melhor amigo, que já era poeta, e a quem dedico a Alquimia; o poeta J. G. de Araújo Jorge, de quem minha mãe possuía obras completas em casa; e William Shakespeare. Todos três sonetistas de mão cheia. Quanto ao último, se é para se inspirar em alguém, que seja no maior de todos. Mas o soneto, que começou como modelo, como padrão, com o tempo tornou-se uma camisa-de-força. O poema Solilóquio fala dessa necessidade de escapar da forma única.
O primeiro poema do seu livro, intitulado “Poesia-gangrena”, é um desabafo contra os poemas superficiais. Você acredita que os poetas atuais estão mais relaxados na composição dos versos?
A Modernidade exterminou os padrões clássicos e o século XX se construiu sobre uma progressiva hiper-relativização. Os rumos, as possibilidades, se ampliaram, ao mesmo tempo em que se perderam. Com a Era Virtual, esse sentimento de estar perdido só aumentou. Temos uma explosão de informação. Na poesia não é diferente. Não consigo ter muito interesse por textos que parecem apenas prosa-desabafo, com quebras de linhas aleatórias aqui e ali, para dar um ar de poema.
“Esta não foi uma obra de ficção” é a última mensagem do seu livro. Que comunicado ou sugestão pretende passar ao leitor com essa frase?
Nenhuma obra escrita é, de todo, ficção. Todo texto tem componentes biográficos de quem escreve. No caso de um livro de poemas, isso é mais verdadeiro ainda. Ademais, o processo de aprendizado mostrado no livro se confunde com o meu próprio (ainda que de formas menos explícitas do que possa aparentar). O livro é uma autobiografia poética, embora não necessariamente fatual.
Você costuma ler a poesia atual produzida no país? Se sim, quais poetas despertam o seu interesse de leitura?
Leio muito menos poesia do que gostaria. E não é por falta de interesse, mas por excesso deles, em áreas diversas, o que pulveriza a atenção. Me reconheço pouco na poesia brasileira contemporânea – acho que sou mais um escritor que escreveu poesias do que propriamente um poeta. Acho que Petrarca foi quem afirmou que se sentia mais à vontade entre os mortos (no caso, os pensadores anteriores a ele) do que entre os vivos. Mas vou citar, além de nomes com mais anos de história, como Nicholas Behr e Felipe Fortuna, a Angélica Freitas, que tem uma poesia muito significativa.
Seu próximo trabalho publicado será um novo livro de poesia ou de outro gênero?
O que tenho a dizer hoje em dia cabe mais em prosa do que em poesia. Mas sem me afastar da fascinação pelo ato da escrita. É um momento de invocação, de magia, que devia ser mais respeitado. Todas as minhas ideias de produção literária para o futuro passarão, em maior ou menor grau, por esse tema.
– José Fontenele