O renascimento de uma escritora

Silvia Gerschman nasceu em Buenos, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1977 e hoje é cidadã brasileira. É mestre e doutora em Ciências Sociais, e trabalhou como pesquisadora e professora da Fundação Oswaldo Cruz. Publicou muitos artigos e livros em sua área de pesquisa. Desde 2015 se dedica à Literatura. Tem contos publicados em antologias como “Contágios” (Oito e Meio, 2016) e “Ninhos” (Patuá, 2019). Em 2020, sairá seu segundo romance, “A Partitura de Clara” (Penalux). É membro efetivo do coletivo de escritores Os Quinze. Leiam a entrevista com a autora.

 

Você chegou ao Rio de Janeiro em 1977, vinda de Buenos Aires, onde nasceu, e pediu asilo político por intermédio do Alto Comissariado de Refugiados Políticos das Nações Unidas. Foi também um “Renascimento em outras terras” para você?

 

R: Foi sim. Essa foi uma viagem muito difícil, em verdade não sabia se chegaria ou não a Rio de Janeiro. Chegar foi como nascer de novo e isso me ajudou a dar um sentido ao livro. Acho que existem poucas possibilidades para uma pessoa de renascer… Poder dizer bom, vou fazer tudo novamente e diferente.

 

A história de “O renascimento em outras terras” é inspirada em fatos reais? É a história da sua família?

 

R: Sim em parte, não completamente. A minha intenção com “O renascimento em outras terras” não era fazer uma autobiografia, não me considero tão excepcional que mereça ser autobiografada. Mas, compreendo que certos fatos da minha vida valem a pena ser contados, histórias, emoções e vivencias se assemelham na vida de todas as pessoas; algumas vez sentimos mas esquecemos. Evoca-las com a leitura de um livro é como abrir a porta para as lembranças penetrarem em nós e pôr nelas novos matizes.

 

Você publicou diversos artigos e livros em sua área de atuação, Ciências Sociais. Como foi a transição de um discurso técnico/acadêmico para a narrativa literária?

 

R: A transição pode se resumir à palavra liberdade. Não mais precisava me sujeitar a uma narrativa regrada pelos cânones da ciência nem fundamentar aquilo que afirmava. Era absolutamente livre para escolher meu objeto da escrita e dizer dele o que passava pela minha criatividade, meu coração, sentimentos e pela maneira em que a realidade descobria-se aos meus olhos. Ser uma pesquisadora e professora como era e escrever sobre o processo de conhecimento era também bastante gratificante, mas demasiado sério e eu não sou tão seria quanto…ou não desejava manter essa restrição à liberdade até o fim da vida.

 

Você participa de alguns coletivos de escritores, Os Quinze e Confraria dos trouxas. Qual é a importância dessa atividade para você como escritora?

 

R: Sim, participo de formas diferentes em cada um deles. Os Quinze é um coletivo em que participei na sua formação. Éramos alunos selecionados através de um pequeno concurso difundido pelo Caderno Prosa e Verso, do Jornal O Globo, em 2014. Essa iniciativa foi do Professor José Castello e da Professora Suzana Vargas, fundadora do Instituto Estação das Letras. O professor Castello selecionou 15 contos, dentre os quais, o meu. As aulas que se estenderam durante um semestre. O livro foi publicado com o título “Contágios”, pela Editora Oito e Meio em 2016. Decidimos, após finalizado o curso e o livro, continuar como um grupo literário. Com a Confraria dos Trouxas, Luis Mangi, companheiro de Os Quinze, convidou-me a escrever uma história cujo tema foi O tempo. Meu desejo é que venham outros.

 

Em junho será lançado um novo romance de sua autoria, “A partitura de Clara”. Pode adiantar um pouco do que trata?

 

R: O romance acontece em dois planos no primeiro, dois pesquisadores de historia contemporâneos, o francês Patrick e a brasileira Anna, dedicam-se a procurar a partitura perdida de uma obra de Clara Schumann e, em segundo plano, narra-se a vida e trajetória da pianista e compositora. Trata-se, de descobrir entre meandros da vida e a obra da compositora Clara Schumann, qual o destino de uma partitura composta por ela da qual se desconhece seu paradeiro. Há poucas testemunhas da sua existência ainda que existem herdeiros que afirmam que se trata de um mistério a ser desvendado. Ao tempo que o romance trata da vida desta exímia pianista e compositora do século XIX, Patrick e Anna reconstroem o mistério da partitura de Clara.

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