O livro de estreia de Thássio Ferreira, (Des)nu(do) (Íbis Libris) revela o que se esconde por trás do poeta e da poesia. Fã de Manuel Bandeira, Fernando Pessoa e Manoel de Barros, entre outros, seus versos investigam o despertar do ato poético. O lançamento em Niterói será quinta-feira, dia 16 de março, às 19hs, na Livraria Blooks da Reserva Cultural Niterói.
Como se deu o processo de criação das poesias de (Des)nu(do)? Foram sendo escritas ao longo da vida ou havia um eixo temático que você delimitou e seguiu?
– Os poemas foram sendo escritos ao longo do tempo. Quando comecei a pensar o livro, fui reunindo e editando os textos que considerava melhor se adequarem ao conjunto que eu queria construir.
A primeira e segunda partes do seu livro se chamam “O Poeta” e “A Poesia”, respectivamente. Os poemas desse grupo são uma tentativa de desmascarar o poeta ou de mascarar o ofício da poesia?
– Não diria desmascarar, mas desnudar mesmo, revelar aos outros, e para mim, novas facetas tanto minhas como poeta quanto da minha escrita. Não de mim como indivíduo, no âmbito pessoal, “o Thássio”, mas como artista, como alguém que se expressa para outros ouvirem, alguém que busca alcançar a sensibilidade do outro expondo a própria. E da escrita como um desnudamento do meu itinerário de construção poética, um mosaico de diversos ângulos, viver e escrever poesia.
Grande parte dos seus poemas é escrito em forma livre, o que críticos definiriam como Poesia Pós-Moderna. Quando escreve pensa em um determinado estilo literário ou não se preocupa com isso?
– Em geral não me preocupo em seguir este ou aquele estilo. Estilo é algo pessoal, que cada escritor constrói. O que é diferente de seguir determinados formatos poéticos. Às vezes gosto (ou o poema pede) de escrever segundo determinado rigor, determinadas regras, como, por exemplo, quando uso o soneto italiano. Mas não há autoimposição, não me sinto obrigado a escrever de nenhuma forma. Tenho um fraco por rimas e aliterações, algumas assonâncias, como o Igor Fagundes aponta no prefácio, mas é um gosto pessoal bastante livre, não uma preocupação.
Além de tratar do ofício de poeta e da poesia, a sua admiração pela Natureza é outro assunto presente. Como o contato com o Meio Ambiente o inspira poeticamente?
– Em múltiplos sentidos e camadas. Há as paisagens em si, a riqueza de imagens que a natureza proporciona, há as sensações e sentimentos que o contato com ela me inspira, e há essa voz íntima que o silêncio da natureza me desperta. A vida numa grande metrópole como o Rio, pode ser, além de acelerada, cheia de muitos estímulos fugazes, fragmentários. O contato com a natureza desnuda um fio narrativo, uma fluidez de voz poética dentro de mim que aguça a sensibilidade que eu quero mostrar e encostar no leitor para que ele também aguce a própria. O não-óbvio para mim é uma fonte preciosa de felicidade.
Você é voluntário da ONG TETO desde 2013. Como é sua atuação junto à organização?
– Eu participei de uma construção de moradias de emergência no Jardim Gramacho (onde ficava o aterro sanitário da região metropolitana do Rio) em dezembro de 2013. Em 2014 participei de outras atividades e me tornei voluntário fixo, da equipe de captação de recursos e parcerias empresariais, que passei a coordenar no fim de 2014, até o início de 2016. A partir de 2016 eu deixei de ser voluntário fixo, em parte para me dedicar mais à literatura, mas sigo atuando em atividades de campo e em ações específicas, inclusive de captação de recursos. Recentemente, por exemplo, implantamos doação ao TETO nos boletos de condomínio do meu prédio e pretendemos replicar o modelo em outros condomínios.
Quais poetas marcaram a sua vida?
– O primeiro, e talvez mais marcante, foi o Manuel Bandeira. Eu me identificava muito com a melancolia dele quando comecei a escrever, e ele tem uma riqueza de expressão muito ampla, escreveu em formas fixas, em forma livre, escreveu sobre o próprio fazer poético, sobre variadíssimos assuntos. Depois, Pessoa, especialmente o Caeiro, pelo tema e pela forma livre, que é de uma leveza e ao mesmo tempo de um impacto impressionantes. João Cabral me marcou muito, mas influenciou pouco. Mais tarde, Sophia de Mello Breyner Andresen e, ainda mais intensamente, Manoel de Barros me marcaram profundamente.
– José Fontenele