Misto de livro de memórias e relatos dos bastidores de um consultório de psicoterapia, “O Mestre dos Abraços” é uma obra que fala ao coração ao narrar a (trans)formação da criança Celso Traub no profissional que se tornou: médico, homeopata a psicoterapeuta com 30 anos de ofício, 20 deles estabelecido na Lagoa da Conceição, localidade bucólica, longe do centro de Florianópolis (SC), onde é considerado pela população local o ‘médico de família’. Leiam a entrevista com o escritor.
Você é médico com 30 anos de profissão. De onde surgiu o desejo de escrever um livro?
R: Sempre tive grande admiração pelos escritores e gratidão pelo que ganhei lendo seus livros. Foi um processo natural desejar ser algo que admiro. O conteúdo é fruto de uma vida de trabalho cuidando de pessoas. Me parece uma extensão do mesmo trabalho que sempre fiz, mas com maior alcance.
O livro intercala memórias de sua formação, sob influência de seu pai, com casos de consultório. São dois assuntos, aparentemente, distintos. Como surgiu a ideia de unir os dois nesse formato de livro?
R: O livro foi escrito sob forma de fragmentos, que fluíram livremente no processo de criação. Foi no decorrer da escrita que veio a percepção de que era possível unir contextos distantes dentro de uma linha coerente com o propósito do livro. Gostei do resultado final.
Como foi a experiência de recriar as histórias do consultório – em última instância, fazer ficção?
R: Foi lindo e emocionante. Me via constantemente dentro da minha sala, mesmo não tendo escrito o livro lá. A ficção me deu a liberdade que sentia falta na minha prática diária. Usei-a para destacar aspectos importantes e pouco conhecidos pelas pessoas, incluindo o que o terapeuta sente no seu trabalho.
Seu livro mostra como, com habilidade e sutileza, é possível “quebrar” a resistência dos pacientes ao processo terapêutico, seus pré-conceitos e condicionamentos. Você acredita que pode ser útil aos estudantes de psicologia, além de ser boa literatura?
R: Cada pessoa é única e isso vale profundamente para os terapeutas. Não é possível copiarmos um aos outros sem perdermos o mais importante: a nossa percepção pessoal. Dito isso, acredito que o meu livro possa ter alguma utilidade. Observar , por exemplo, como tento não me exigir o que não tenho para dar, sem abandonar o compromisso com o que estou fazendo.
Estamos vivendo um momento desafiador de isolamento social. Olha aqui o lançamento do livro em uma Live. Como você vê esse momento e como terapeuta, que conselho daria para as pessoas?
R: Não vou fugir do clichê: toda situação exigente nos trás ganhos. No início desse ano eu não me via atuando profissionalmente através de video. Vivi uma vida inteira de trabalho íntimo e presencial. Era lógico duvidar da eficácia do video à distancia. Eu estava errado. A vontade de vencer os obstáculos é maior. O meu conselho é: não desista nunca de encontrar possibilidades que você desconhece. Esse é um bom momento para isso.
Por Valéria Martins