O filho de Osum

O filho de Osum é um romance histórico que retrata a cultura afro-brasileira e a imigração judaica no bairro paulistano do Bom Retiro, na década de 1950. O protagonista, Jos, filho de um professor judeu e líder da resistência holandesa durante a ocupação alemã, conhece Preta Lina ao imigrar para o Brasil. Ela é empregada em um puteiro no bairro do Bom Retiro, filha de Oxum, e lhe oferece proteção por identificar nele traços desse mesmo Orixá. Jos, porém, se envolve com o crime e passa a explorador de prostitutas. Ele acaba por perder a proteção de Oxum e retorna à Holanda. O ‘espelho de Oxum’ é um elemento simbólico no romance, que reflete a vaidade e a ambição de Jos. De volta à Holanda, ele encara seu destino mirando-se em um espelho.

 

Foram muitos anos de pesquisa para escrever “O filho de Osum”. De onde veio a motivação para este livro?

R: O trabalho dedicado ao livro durou três anos. Entretanto, devo dizer que utilizei informações colhidas ao longo de 10 anos que dediquei à cooperação acadêmica com a Universidade de Wageningen, o que me levou a me deslocar para a Holanda mais do que uma vez ao ano. Também utilizei a minha vivência no velho Bom Retiro, bairro onde eu nasci.

 

O bairro do Bom Retiro é ao mesmo tempo cenário e personagem do romance. Sendo de origem judaica, a história deste bairro também faz parte da sua vida?

R: Nasci no Bom Retiro nos anos 50. Neste período ainda chegavam os sobreviventes do holocausto. O bairro foi, e ainda é, um lugar onde refugiados aportavam em busca de sobrevivência. Assim foi com os italianos, judeus de diversas origens, gregos, bolivianos e coreanos, que lá chegaram em diferentes levas de imigrações. O denominador comum, sempre o mesmo, a busca de oportunidades. A escola pública onde eu estudei me presenteou com a diversidade cultural, presente nos meus colegas de escola. Ainda mantenho laços com bom número deles. Tenho certeza de que esta vivência me ajudou a compreender a necessidade da tolerância.

 

O protagonista, Jos, é uma personalidade ambígua, talvez, como todos nós. Como foi a concepção deste personagem?

R: Jos é herói e crápula ao mesmo tempo. Um homem que salvou vidas lutando na resistência à ocupação nazista da Holanda, mas que não titubeou em trair a confiança da mulher que amava, que entregou aos traficantes de mulheres. O seu traço narcisista o colocava diante do espelho, objeto que explorei metaforicamente no texto e que também remete a Osum, a Orixá rainha das águas doces.

 

Os rituais afro-brasileiros e as referências à religião e cultura africanas são outra marca no livro. Qual é a sua relação com esse universo?

R:  A minha relação pessoal com as religiões de matriz africana é nenhuma. Apenas admiro a riqueza simbólica que existe na mitologia dos Orixás. A escravidão foi uma tragédia que enriqueceu o Brasil com uma diversidade cultural, de sons, cheiros e cores trazidas pelos negros.

 

Além de escritor, você é também músico, toca viola caipira e se apresenta com A música alimenta a literatura?

R: As artes conversam, por certo. Costumo afirmar que a música me devolveu o tempo humano. Eu iniciei o estudo da viola cabocla ou caipira com quase cinquenta anos de idade. Este instrumento me levou a explorar o universo caipira, dos causos, das modas de viola, das lendas que compõem a cultura deste instrumento.

Não sei se posso me considerar um músico. Em atitude de respeito a tantos amigos que ganhei no universo da música raiz, músicos verdadeiros, devo afirmar que, no máximo, sou uma curiosidade musical. Eu e RoseBlue nos divertimos muito estudando viola e voz, organizamos saraus de viola e poesia, e mantemos um projeto social levando a música raiz para a meninada de mais de 80 ou 90 anos. Uma experiência difícil de explicar. Arte é vida. Só.

 

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