Marquês de Sade, Hilda Hilst, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca. São esses os nomes que vem à mente do leitor sob o impacto da literatura de Ronaldo de Medeiros e Albuquerque. “Sodoma”, seu terceiro livro, mostra o talento do escritor de criar histórias que chocam e deslumbram. Toda uma miríade de situações que constituem a complexa sexualidade humana são expostas em contos por vezes longos, como A estratégia da flor carnívora, escrito em forma de texto teatral, ou curtos e precisos, como O falo de Deus. Algumas dessas narrativas não aprofundam a descrição de seus protagonistas, o que, em vez de tirar sua força, amplifica-a, por adquirirem um tom simbólico, ou até mitológico, penetrando no subconsciente do leitor.
Seu novo livro reúne contos eróticos com toques de perversidade. Onde, em seu imaginário, brota a predileção por esses temas?
R: É a mesma predileção que ocorre na seleção das leituras. Prefiro mil vezes ler ‘As onze mil varas’ (de Guillaume Apollinaire) ou ‘Manual de boas maneiras para meninas’ (de Pierre Louÿs) que um dos romances açucarados da Jane Austen. O tema da humilhação me é muito caro.
Alguns de seus contos fariam corar o Marquês de Sade. Ao escrevê-los tinha em mente os efeitos que poderiam suscitar nos seus leitores, seja excitação ou condenação?
R: Não creio que o Marquês de Sade ficasse corado ao ler ‘Sodoma’. Mas concordo que o livro possa provocar excitação ou profunda desaprovação. Acho que uma das mais importantes atitudes do escritor é a de banir a autorrepressão, a pior de todas.
É comum o público confundir obra e artista. Fica preocupado com o julgamento que certas pessoas possam fazer de você, após ler seu livro?
R: Os personagens são muito diferentes uns dos outros, o que dificulta essa confusão entre obra e autor. De qualquer modo, é um risco que o escritor tem de correr.
Quais livros e autores participaram da sua formação como escritor?
R: Especialmente nesse livro a influência de ‘Os 120 dias de Sodoma’ (do Marquês de Sade) é óbvia. Na obra como um todo (este é o meu terceiro livro), paira a sombra de Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan. Mas, como cinéfilo que sou, a influência do cinema é grande. Entre os diretores, Tarantino certamente.
Como é seu processo criativo? De onde vem as ideias?
R: Nos contos longos eu parto do personagem e depois crio a trama. Nos curtos, basta a irrupção de uma ideia. Em ‘Sodoma’, nenhum conto tem conteúdo autobiográfico. Mas recentemente escrevi um conto, para um livro futuro, em que entraram episódios da minha vida.
O que espera alcançar com a publicação de “Sodoma”?
R: Nada além do que todo escritor almeja: que sua obra se torne conhecida. Para o bem ou para o mal.
– Valéria Martins