Gruta filosófica

Tomando como base um fato histórico pouco conhecido – a existência de um campo de concentração em Pindamonhangaba e Guaratinguetá, no interior de São Paulo, até 1945 – o romance “A gruta de Calipso” (Editora Macabéa) conta a história de Jardel, judeu convertido ao cristianismo que foge do nazismo e vai dar em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, numa época em a localidade era uma simples aldeia de pescadores. Suas impressões, a interação com a cultura brasileira, seus questionamentos sobre a nova vida que lhe é possível tornam este romance um livro original, informativo e profundo, através das reflexões do protagonista. Lançamento na quarta-feira, 29, na Livraria da Travessa de Botafogo, às 19h.

 

A trama de seu livro tem base em um fato pouco conhecido na História do Brasil: a existência de campos de concentração de prisioneiros políticos no interior de São Paulo. Explique qual era a função desses campos e como ficou sabendo disso?

 

R: Esses campos serviram, basicamente, para aprisionar os tripulantes do navio alemão Windhuk que aportou em Santos para fugir da Marinha inglesa, que dominava o Atlântico Norte. Tenho pós-graduação em Filosofia e meu trabalho de conclusão do curso foi sobre o nazismo. Tomei ciência desse fato quando pesquisava o nazismo no Brasil.

 

O que o motivou a escrever o romance “A gruta de Calipso”? O que desejava transmitir?

 

R: Meu personagem, perseguido por sua condição judaica, busca, a princípio, apenas fugir do nazismo. Todavia, seus planos de fuga não resultam como o planejado e ele termina aprisionado no Brasil. O tempo todo ele se equilibra, sem perceber, na beira do abismo. Sua luta pela liberdade resulta em inesgotável solidão.

 

Quais romances marcaram sua vida de leitor? Algum deles serviu como referência para “A gruta de Calipso”?

 

R: O romance que mais marcou minha vida de leitor foi “Ulisses” do James Joyce. Quando li, entendi o que era literatura. Outros livros que me marcaram muito foram “Em busca do tempo perdido” de Proust e “Angústia” do Graciliano Ramos. No entanto, nenhum desses livros foi referência para “A Gruta de Calipso”.

 

Você já escreveu um livro infantojuvenil de contos, uma novela, um livro de poesias e agora um romance histórico. Qual gênero gostaria de aprofundar e por quê?

 

R: A poesia me abandonou há muito tempo. Hoje me considero um romancista. Escrevo poucos contos e prefiro textos com fôlegos maiores, pois gosto de desenvolver características psíquicas dos meus personagens e não há espaço para isso no conto.

 

O senhor leva vida de escritor, embora sua obra seja ainda pouco conhecida. Conte-nos um pouco de sua rotina de leitura e escrita.

 

R: Leio muito, praticamente todos os dias da minha vida, muitos livros ao mesmo tempo. No momento estou lendo “Sem olhos em Gaza” de Aldous Huxley; “Finn’s Hotel” de James Joyce; “Confissões de Ralfo” de Sérgio Sant’Anna; e “O capital no século XXI”, de Tomas Piketty. Escrevo durante a noite, no silêncio da madrugada, após todos dormirem. Prefiro a solidão do meu escritório para escrever.

 

Qual conselho daria a alguém que se inicia na literatura?

 

R: Ler é o melhor conselho.

 

 

– Valéria Martins

 

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