Greg, o menino que morava em um trem

Com criatividade e delicadeza, a psicóloga e educadora Ana Luiza Badaró, fundadora e diretora do colégio Os Batutinhas – Espaço de Educação Infantil (RJ), construiu uma fábula que nos permite enxergar – e sentir –, do ponto de vista das crianças, os novos arranjos da família contemporânea. Com lindas ilustrações do premiado Odilon Moraes, o livro infantil “Greg, o menino que morava em um trem”, mostra que, à medida que os pais se engajam e terminam novos relacionamentos, as crianças ‘ganham’ e ‘perdem’ novas famílias sem muita explicação. Leiam a entrevista com a autora.

 

Sua formação é em Psicologia e há 23 anos você fundou uma escola de educação infantil. Como a lida com as crianças e suas famílias influencia o seu trabalho de escritora?

 

R: O convívio com as crianças é uma fonte de inspiração inesgotável. As emoções estão todas ali, na sua expressão mais verdadeira. Pais com crianças pequenas dão um mergulho profundo em um universo de novos sentimentos antigos. Pegar o filho nos braços te leva de volta à própria infância. É quando resignificamos nossas memórias, compreendemos e até perdoamos nossos pais por eventuais erros. Sou apaixonada por essas relações e esse material humano é riquíssimo.

 

“Greg” tem uma abordagem inédita sobre um tema muito comum: as separações dos pais e a falta de cuidado ao elaborar isso junto com as crianças. De onde surgiu a ideia deste livro?

 

R: Na verdade, não é que haja uma falta de cuidado, é porque é difícil mesmo. A ideia nasceu de uma frase que ouvi há anos: “Ontem eu encontrei minha ex-irmã” e que me voltou à memória ano passado, quando um aluno de 5 anos me disse: “Eu perdi meu irmão e meu cachorro”. Eu levei um susto, pois eu sabia que ele era filho único. Sentei-me do lado dele para conversar e entendi que o pai havia terminado um longo namoro com a namorada que tinha um filho da mesma idade e uma casa na praia, onde morava o cachorro que o casal comprou para as duas crianças terem algo em comum para cuidar. É triste mesmo, fazer o quê?

 

“Socorro, mamãe caiu no celular” fala sobre a qualidade da presença dos adultos junto às crianças, quando usam celular. A mãe dos protagonistas é bem presente, o problema é que não desgruda do celular. Como lidar com isso na vida real?

 

R: É um desafio enorme. Todos estamos conectados demais: adultos e crianças. O celular tem esse problema, ele nos invade, nos rouba o foco mesmo quando estamos dispostos a prestar atenção à vida real. Na história, é claro que a mãe está ali o tempo todo, mas está tão presa à tela que dá a impressão de que caiu lá dentro! A solução é a que os filhos encontram no livro: tem um botão para desligar. É o único jeito.

 

À frente dos Batutinhas, você teve a oportunidade de atuar como editora, publicando não apenas seus primeiros livros, como de outros autores. Como foi a experiência?

 

R: Foi maravilhoso! Recebi textos lindos, foi difícil escolher. O processo de produção é incrível. O livro é só um projeto e, de repente, ganha corpo e vida. O texto é uma coisa, a ilustração é outra e os dois juntos são uma terceira, algo muito maior que a soma dos dois anteriores.

 

Você é empresária e agora está investindo no mercado da terceira idade, à frente da rede Old is Cool, que reúne profissionais de diversas áreas, voltados para o cuidado com idosos. Como concilia a literatura com suas demais atividades?

 

R: A literatura está na minha alma. É como uma vida paralela a tudo o mais o que eu faço. Qualquer coisa que eu vejo ou escuto pode virar uma história – é como se houvesse um radar em busca de um personagem que já existe, mas que eu ainda não conheço. Eu preciso descobri-lo e não inventá-lo. Mas o trabalho criativo exige dedicação. Minhas ideias são bem exigentes e, se eu não dou a atenção devida, podem ir embora em um piscar de olhos! Então, tento parar uma vez por dia para pensar nos meus textos. Mas não é fácil.

 

 

 

 

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