“Vende-se um elefante triste” é o segundo livro de poesias de João Gabriel. A obra reúne poemas inéditos, escritos antes e durante a pandemia, numa edição com projeto gráfico elegante, ilustrada pela artista Bia Pessoa. Os versos falam da solidão, um lugar físico em que a falta se transforma em presença. Leiam a entrevista com o poeta.
De onde vem o elefante triste que dá título ao livro?
R: Do poema ‘Meu elefante’, que faz parte do livro. O título vem tanto do poema que é parte importante na concepção da obra, quanto de uma certa (auto)ironia com o ofício de poeta: vender um elefante triste – porque mesmo a sua tristeza está posta a venda – é vender o “invendível”, é colocar valor em algo sem preço, que é como enxergo a poesia e a arte, em geral.
Quais são suas referências literárias, poetas clássicos ou contemporâneos que ajudaram a sua formação de escritor?
R: Meu poeta preferido é o Drummond, acho que em tudo que faço tem muito da obra dele, mesmo sem querer. Os modernistas, Mário, Oswald, Bandeira são fundamentais porque fundam toda a poesia que vem depois, além de Augusto dos Anjos, Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Souza que são à sua maneira, precursores. O tropicalismo e os poetas da música também me pegam muito, Caetano, Chico, Torquato, Wally Salomão, Cazuza, todos me influenciaram demais. Hoje gosto muito da Ana Martins Marques, do Ricardo Aleixo, tenho me apaixonado cada dia mais pela obra do Emicida que eu, por ignorância pura, não conhecia e tem o Chico César, que faz parar pra sentir e pensar como ninguém. Também não dá pra esquecer o Leminski, dele eu tenho até tatuagem.
Artistas como Antônio Fagundes, Helena Ranaldi e Clarice Abujamra aparecem em seu Instagram lendo as poesias de “Vende-se um elefante triste”. Com conseguiu isso?
R: Através de uma rede de contatos e afetos. Tenho amigos e familiares que trabalham no meio artístico e tivemos a cara-de-pau pra pedir pra algumas pessoas, não foi todo mundo que topou, mas muita gente massa aceitou ajudar. Além desses nomes, outros muitos importantes no cenário artístico mineiro e nacional: minha tia querida Yara de Novaes, os grandes atores Adyr Assumpção e Luiz Arthur, a grande Cynthia Paulino fazendo uma interpretação magistral do poema “Pobre Diabo”, minha madrinha, Débora Gomez, entre outros! Enfim, sou muito grato a todo mundo que emprestou o próprio talento pro meu texto.
Seu novo livro é uma publicação totalmente independente, e saiu com selo da sua produtora, a Produções do Ó. Quais são as vantagens de se publicar nesse formato?
R: Acho que um maior controle da obra e um retorno financeiro mais imediato são as principais vantagens, mas publicar um livro independente numa pandemia é uma tarefa hercúlea!
Os versos de algumas de suas poesias são longos, nos contam histórias. Já pensou em escrever contos e/ou romances?
R: Gosto muito de ler contos e romances e sou, inclusive, excessivemente crítico. Daí acabo achando que não tenho disciplina pra escrever prosas mais longas. Mas sempre gostei de poemas grandes, como os do Álvaro de Campos, alguns do Drummond, então tento não pensar na extensão do que vou escrever ou estou escrevendo.
Escritores como o premiado Paulo Scott defendem que a poesia alimenta a literatura, e que mesmo quem escreve romances, como ele, precisa ler poesia de forma contumaz. Acredita nisso?
R: A poesia é a melhor forma de abstração inventada pelo ser-humano, porque sua matéria-prima é a fonte primeira de qualquer subjetividade: a palavra, o signo, o som. Então ela acaba por ser um estímulo importante para a vida interior de um indíviduo, treinando melhor que qualquer coisa essas características. Apesar de eu achar que existem outros meios de estimular a abstração me parece que para um artista (e para um escritor, principalmente) abrir mão disso é bobagem.
Quais são seus planos como escritor? Tem outros livros em mente?
R: Tenho feito cursos e oficinas de dramaturgia, roteiro, mas pretendo escrever poesia (e publicar) pro resto da vida!