Do mundo para a “Praça do mercado”

O diplomata Jorge Sá Earp acaba de retornar ao Rio de Janeiro, onde nasceu, após morar em países nos cinco continentes. Seu novo livro de contos, “A praça do mercado” (7Letras) narra episódios cotidianos com a leveza e bom humor que são sua marca, e que lhe renderam importantes prêmios literários. Leiam a entrevista com o escritor.

 

Seus contos narram cenas e situações do cotidiano de forma tão natural que participamos das histórias quase como personagens. Quando surgiu e como se desenvolveu a sua voz de escritor?

 

R: Em pequeno gostava de desenhar enquanto contava histórias pra mim mesmo. Depois comecei a escrever essas histórias e meu tio-avô chegou a encaderná-las todas junto com os desenhos. Foi meu primeiro livro. Mais tarde, depois de muitas leituras, comecei a escrever contos ditos ‘sérios’ para os adultos.

 

Como diplomata, você residiu em Polônia, Holanda, Gabão, Bélgica, Romênia, Equador, Costa Rica e Itália. A imersão em culturas tão diferentes influenciou a sua literatura? Como?

 

R: Influenciou muito. Conhecer as diferentes visões de mundo por parte dos habitantes de países diversos me fez refletir e transformar minha própria visão de mundo. Descobri também uma capacidade de adaptação que não sabia que tinha. Escrevi e publiquei um romance ambientado na Polônia e outro em um país imaginário da África. Escrevi vários contos que tem como cenário os países por onde andei.

 

São quase 20 livros publicados desde o primeiro, “Feixe de lenha”, em 1980. Como é para você a experiência de escrever e publicar? Quando decide que um livro está pronto para ser lido?

 

R: A história vem, às vezes, provocada por um acontecimento real que a fantasia transforma. Às vezes por uma suposição que acaba se desenvolvendo em história provável. Depois de reler, riscar, acrescentar, corrigir, de repente você sente que a história está pronta para ser lida. É um instante intuitivo. Não sei dizer quando, nem como. O romance ou o conto já se desenvolveu, está crescido e já pode caminhar: como uma criança.

 

Seu romance “Ponto de Fuga” (Editora Paz e Terra) foi vencedor do VI Prêmio Nestlé de Literatura em 1997. Já o conto “Um admirador” do livro “O Cavalo Marinho” (7Letras) recebeu Menção Honrosa no Concurso de Contos Guimarães Rosa 1993. Como essas honrarias marcaram sua carreira de escritor?

 

R: Me surpreenderam. Me emocionaram. Marcaram muito. Achei que não conseguiria escrever nada bom, com a mesma qualidade. Mas é um sentimento passageiro. Logo depois retomei minha atividade como escritor, normalmente, como se não houvesse ganhado prêmio algum.

 

Você agora está de volta ao Rio de Janeiro onde nasceu e se criou. Como encontra a sua cidade, nesse momento de crise? Ela ainda o inspira a escrever?

 

R: Outro dia, por acaso, abri o “Memorial de Aires” na primeira página e me identifiquei a história: um diplomata aposentado que volta à sua cidade de origem. Só que é um Rio de Janeiro completamente diferente daquele de Machado de Assis: onde as diferenças sociais estão maiores, muito mais visíveis e, como consequência disso, temos a violência.

 

– Valéria Martins

 

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