Sonhos, bullying, separação, ciúme, violência, compulsões. Esses e outros temas são interpretados com delicadeza e erudição, à luz da Psicanálise, pela psicóloga Cynthia Bezerra, nas 26 crônicas de seu livro, Consultório de Psicologia. A cada um deles corresponde uma receita culinária criada e aperfeiçoada pela autora, num sutil diálogo em que o ato de cozinhar desponta como forma de arte capaz de transmutar os males da alma humana. Leiam a entrevista com a escritora.
Você é psicanalista e lançou um livro que combina temas de consultório com receitas culinárias. De onde veio a ideia dessa associação? Em algum momento teve receio de ser criticada pelos colegas por ‘banalizar’ a psicanálise?
R: A Sublimação, baseada no texto freudiano, trata de transmutar conflito em Arte. Cozinhar é um ato de Amor e tem para mim a mesma força. Tenho certeza de que um bom psicanalista tenta aproximar a Psicanálise das pessoas e das suas possibilidades.
As receitas contidas no livro foram todas adaptadas e testadas por você. Com quem aprendeu a cozinhar?
R: Todas as receitas são minhas ou passaram por mim muitas vezes. Observar e experimentar a cozinha sempre foi pra mim, desde criança um brincar lúdico.
Não há nos textos sobre bullying, depressão, violência, estresse, separação, nenhuma referência explícita que os ligue diretamente à iguaria selecionada para ilustrar cada um. Como se deu a escolha entre tema e receita? Em que se baseou?
R: As 26 receitas fazem um link com cada um dos textos a que correspondem. Bullying (arroz de pato, já que pato é o debochado do grupo); depressão (mousse de chocolate pelo alto índice que o lítio contido no chocolate possui); Luto e separação (filet com crosta de pistache porque o sujeito está machucado pela perda “crosta”, é assim por diante.
O estereotipo do psicanalista é de uma pessoa sisuda e fechada. Sua página no Facebook – “Consultório de Psicologia” – tem mais de 4.500 seguidores e você dialoga intensamente com eles. Qual é a importância disso para você?
R: Adoecemos por causa de relações excessivas demais ou precárias, conosco ou com os outros. A página “Consultório de Psicologa “ nasceu para escrever para o leitor e dialogar com o ele. Recebi um número de grande de mensagens inbox na página perguntando: “existe alguém aí pra conversar?”
No capítulo “Mitos e verdades sobre a psicanálise”, você cita questionamentos comuns como: “A psicanálise só olha para o passado”, “Tudo para Freud se resume a sexo”, etc, e os comenta um a um. No mundo fragmentado e imediatista de hoje ainda há espaço para o método de análise criado por Freud?
R: O método psicanalítico é de uma INTEGRIDADE imensa, ele cabe como uma luva nesse nesse ”mundo FRAGMENTADO” . Podemos ser imediatistas, só não podemos ser quem não somos; porque esse contorcionismo não se sustenta por muito tempo