A Besta de Pasadena (Jaguatirica) é o terceiro volume da Trilogia do Apocalipse, do escritor Ilmar Penna Marinho Jr. Logo no início sabemos que o quadro 75 da tapeçaria, justamente Besta aprisionada por mil anos, retornou ao seu lugar de origem. Esse fato coincide com o escândalo do Mensalão e o início da operação Lava Jato, reveladores do maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Os personagens de A Besta dos Mil Anos e de A Besta de Lucca voltam à cena e participam ativamente das investigações nos bastidores de uma empresa de petróleo.
Em uma de suas crônicas semanais, postada em sua fanpage no Facebook, o senhor conta que uma frase de Martin Luther King (1929-1968) o motivou a escrever A Besta de Pasadena. Como foi isso?
R: O que preocupava Luther King não era “o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Nunca se calou diante da adversidade. A frase mexeu comigo. Também não me calei. Decidi escrever A Besta de Pasadena como meu grito contra a impunidade dos corruptos, antes que ela caía no esquecimento ou no abismo da prescrição.
A Besta de Pasadena se passa cronologicamente na mesma época do Mensalão e da Operação Lava Jato no Brasil. Como conseguiu reunir acontecimentos reais e ficcionais no seu romance?
R: Reuni uma farta documentação de publicações de jornais, revistas e registros do Google. Mas era preciso também reunir informações sobre o poder decisória de uma megaempresa de petróleo. Vivi 35 anos dentro dela. Há quem suspeite, diante do realismo do enredo, que obtive uma cópia da famosa gravação acusatória. O fato é que tive de lidar com todas as hipóteses reais e ficcionais para urdir uma empolgante trama.
Antes da “Trilogia do Apocalipse”, o senhor escreveu livros técnicos e de não-ficção. Agora que tem a experiência dos dois gêneros, quais as diferenças no ato de criação dessas narrativas e qual das duas gosta mais de escrever?
R: Fui professor de história da indústria de petróleo. Os três primeiros livros publicados foram apostilas das aulas que se transformaram em livros didáticos. Depois escrevi os romances policiais da Trilogia do Apocalipse. Eles pertencem ao mundo mágico da criação literária, que sempre me surpreende e me encanta abraçar apaixonadamente.
Os seus livros partem da ideia de que a tapeçaria desaparecida A besta enjaulada por mil anos, peça central da sua trilogia, seja o motivo do caos e violência no mundo atual. Acredita que a literatura é capaz de contribuir para melhorar esse cenário? Como?
R: Tenho muita esperança de que autores bem-intencionados e com potencial cultural consigam convencer o leitor do quanto é essencial a concórdia entre os homens para se alcançar uma melhoria da condição humana. Acredito ser possível pessoas com posições e ideologias opostas aceitarem dialogar e se entenderem. A literatura pode contribuir e muito para se chegar esse estágio superior de convivência civilizatória.
Somando os seus três livros, chegou a escrever quase mil páginas. Já tem planos para um próximo livro? Qual será o gênero ou tema?
R: Numa entrevista na televisão, fizeram a mesma pergunta à escritora marroquina Laila Slimani, do Canção de Ninar, o livro da babá assassina de Nova Iorque, depois que ganhou, em 2016, o Goncourt, o principal prêmio literário da França. Hesitou, resmungou e confessou que gostaria de escrever um romance de amor. Disse que teria muita dificuldade de escrever. Fiquei com essa ideia fixa na cabeça. Será que conseguiremos?
– José Fontenele