As musas das canções

Você sabe quem foi a Amada Amante? E para quem foram escritos os versos de Espanhola? Ou mesmo se Amélia existiu de verdade? A jornalista e escritora Rosane Queiroz começou a responder a perguntas como essas em 2004, quando fez uma reportagem sobre cinco mulheres que inspiraram a MPB. Com o tempo a pauta foi se ampliando e hoje, dez anos depois, se transformou em livro. Musas & Músicas – a mulher por trás da canção (ed. Tinta negra) será lançado nesta segunda-feira (1º) no Rio de Janeiro, na Casa Laura Alvim, a partir das 19h.

 

Em conversa com a Oasys Cultural, Rosane falou da vontade de adaptar o livro para a TV e do prazer – mas também da dificuldade – de resgatar cada uma dessas histórias.

 

De onde veio a ideia de ir atrás dessas “musas das canções”?

​Sempre fui apaixonada por música. E, quando era editora na Marie Claire, há cerca de 10 anos, pintou uma pauta sobre o tema. Fiquei fascinada ao saber que a Lígia do Tom, por exemplo, existia. Passei um mês atrás das histórias, encontrei a Vera Gata do Caetano (a atriz Vera Zimmermann), a Iolanda do Pablo Milanés e Chico Buarque (Yolanda Benet, ex-mulher de Pablo), entre outras. A reportagem saiu com cinco musas e fez sucesso. Fiquei curiosa em descobrir quem eram as outras de tantas outras canções. Se a música brasileira tem um sexo, ele é feminino… Daí tudo começou.

 

Como foi o processo de garimpagem dos nomes e abordagem dessas moças? Da ideia ao livro pronto, levou quanto tempo?

​Da ideia ao livro pronto, cerca de 10 anos. Mas trabalhei pra valer, nas entrevistas e na escrita, por três anos. Comecei com uma lista muito aberta, e fui fechando sob o critério das canções com títulos com um nome de mulher, como Lígia, Kátia Flávia, ou que remetem a uma figura feminina, caso de Tigresa e Menina Veneno, por exemplo. Também escolhi as mais conhecidas porque não adianta música que ninguém sabe ao menos uma frase ou nunca ouviu, não é? ​

 

Quais os maiores desafios teve que enfrentar durante as pesquisas?

​Conseguir falar com os compositores mais conhecidos e encontrar algumas musas que andavam sumidas. ​Queria também fazer as entrevistas pessoalmente, o que implicava em deslocamentos, então, acabei cedendo ao Skype e ao telefone, em alguns casos. Em muitos deles, foi um trabalho investigativo. Levei mais de um mês para localizar a Preta Pretinha, dos Novos Baianos, ex-noiva do compositor Luiz Galvão. Ela era de Juazeiro, mas hoje vive em Salvador. Eu só tinha o nome da irmã dela e fui por Facebook, lista telefônica etc.

 

Entre tantas histórias, qual foi a mais curiosa? E a que mais te tocou?

​Gosto muito da história da Lígia, do encontro dela com o Tom Jobim no bar Veloso, num dia de chuva. Depois eles vão à casa da Clarice Lispector, onde ele daria uma entrevista. Isso no “fusca azul” do Tom. Além de curiosa, a história tem lances cinematográficos. Daria um belo roteiro. Aliás, é minha ideia transformar o livro em série para TV ou documentário. Outra história que me emociona é a de “Drão”, do Gil, feita para Sandra Gadelha, sua ex-mulher, antes de Flora Gil, no momento da separação. A letra da canção é delicada e forte ao mesmo tempo. Eles tiveram três filhos, a Preta Gil, a Maria e o Pedro (morto em um acidente, em 1990). Ela diz que se emociona sempre ao ouvir a frase “os meninos são todos sãos”, por causa disso. Eu me emocionei também.

 

 

Por Carolina Drago

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