Fernando Perdigão deixou a carreira de executivo de mais 20 anos para atender ao chamado da Literatura. Grande admirador de Conan Doyle, Georges Simenon, Agatha Christie, P. D. James e outros, resgatou essas influências para dar forma ao seu romance policial A pedido do Embaixador. A história acompanha o Detetive Andrade, anti-herói politicamente incorreto, e se desenrola em um ambiente bem brasileiro e familiar ao autor – Copacabana. Confira a entrevista abaixo onde o escritor fala do livro e de seu processo de escrita.
Andrade é um personagem controverso, mas é o charme da história. De onde você tirou a ideia de construí-lo?
A ideia veio da vontade criar um detetive policial revoltado, como os demais, mas que não se enredasse no cinismo e na frieza intelectual. Um revoltado contra o estado das coisas brasileiras, contra o cinismo da retórica politicamente correta, que não é acompanhada de ações efetivamente corretas.
Com métodos questionáveis de investigação, comportamento preconceituoso e abusos de autoridade, Andrade é um detetive um pouco diferente do que o leitor está acostumado a ler. Quais influências literárias você utilizou na construção do personagem?
F.P.: As influências são aqueles detetives de sempre, de Sherlock Holmes e Hercule Poirot aos americanos. Mas a personalidade, a figura traz elementos do Nero Wolfe e do protagonista de Uma Confraria de Tolos, livro de humor fantástico do escritor John Kennedy.
A postura preconceituosa de Andrade pode confundir a cabeça do leitor ao longo do livro. Qual mensagem você quis passar ao escolher uma característica tão forte como essa?
Se há uma mensagem desse ponto de vista é que a retórica politicamente incorreta, no caso do detetive, é contraditada pela ação (sua namorada é meio índia meio negra, sua assistente adorada é ambígua sexualmente).
Você começou a escrever A pedido do embaixador conhecendo o final da história ou prefere escrever desconhecendo os rumos e a solução do livro?
No caso de estórias policiais, eu escrevo sempre depois de ter uma primeira ideia delineada, sabendo quem é o criminoso e de que forma a trama se desenrolará. Só a partir dessa pequena trama montada, começo a escrever os diálogos, reflexões, eventos, o que seja.
O que mudou na sua rotina depois que saiu de mais de 20 anos no trabalho executivo para a carreira de escritor?
Tudo. De uma vida com o dia agendado para uma que precisa ser criada. De dezenas de reuniões diárias e o dia cheio de contatos com colegas, para uns dias solitários e inventados.
Andrade irá ganhar mais crimes para desvendar em Copacabana? Quando iremos revê-lo trabalhando?
Estou terminando de escrever outro Andrade e espero que logo esteja disponível para os que gostaram do primeiro.
– José Fontenele