É possível abordar um tema tão duro quanto o estupro mantendo a leveza e o bom humor? A escritora Stella Florence consegue isso em seu novo romance Eu me possuo (Panda Books) – décimo livro em sua carreira –, com lançamento dia 5 de julho, terça feira, às 19h na Livraria Cultura do Conj. Nacional, em São Paulo.
Seus primeiros livros tinham um tom cômico, depois foram enveredando pelo tema do relacionamento homem/mulher. Por que agora um romance sobre estupro?
Porque precisei amadurecer literariamente para encontrar o tom que eu queria para esse livro: leve e solar, sem perder a contundência e a profundidade.
Karina é uma moça retraída pela violência que sofreu no passado. Como foi a construção desse personagem que começa ‘fraco’ e vai ganhando ‘poder’ a ponto de confrontar seu agressor?
Foi como reconstruir uma estrada que eu mesma já percorri. E, como na vida real, esse caminho é lento, cheio de recuos e avanços, mas vale a pena percorrê-lo até o fim.
A avó, Evelyn, é seu alter ego?
Sim: embora 15 anos mais velha, Evelyn sou eu. Karina também é, com uma diferença: ela foi construída não só a partir de mim, mas sobretudo de muitos relatos que ouvi de sobreviventes de estupro.
As mulheres vivem um momento especial, pelo menos no Brasil, em que se unem e falam abertamente sobre certos comportamentos do homem para com elas – tidos como ‘normais’ ou ‘naturais’ até hoje. Como avalia esse movimento?
Acho absolutamente fantástico e necessário! Acompanho vários blogs feministas e admiro muitíssimo seu trabalho. Reeducar mentes viciadas no machismo (de homens e mulheres) é o caminho para chegarmos a um mundo melhor.
Você passou cinco anos sem publicar livros. O que andou fazendo nesse tempo? Quais outras atividades desenvolveu?
Escrevi 100 crônicas sobre amor e sexo que estarão num livro novo ano que vem e construí o “Eu me possuo”. Foram três anos só nele: nenhuma frase está lá por acaso. Gosto muito de uma frase do Graciliano Ramos que representa o modo como encaro meu trabalho: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso. A palavra foi feita para dizer”. E eu disse.
– Valéria Martins