Quatro meses após ter sua coletânea com três novelas, intitulada A comédia mundana, publicada pela Língua Geral, Luiz Biajoni foi contatado através do Facebook pela editora portuguesa Chiado, uma das maiores da Europa, com escritórios na Alemanha, França, Bélgica e Espanha. Um exemplar de A comédia mundana foi parar nas mãos do editor português Gonçalo Martins, entregue por um amigo que comprou e leu o livro por acaso, durante férias no Brasil. O editor gostou tanto que as tratativas logo tiveram início, um contrato foi assinado e a nova edição acaba de chegar às livrarias portuguesas. Agora, a Chiado quer lançar também o livro anterior de Biajoni, Elvis & Madona – Uma novela lilás. Em entrevista a Oasys Cultural, Biajoni fala sobre seus livros e sua trajetória como escritor.
De onde vem a inspiração para este gênero tão particular seu, que mistura novela policial, pornografia, humor e estética pulp?
A inspiração vem do meu trabalho como jornalista há mais de 20 anos, observando as pessoas, lendo os jornais, a vida. Nesse conjunto, digamos, realista, está o crime, o sexo e o humor – o brasileiro ri de tudo, da desgraça, da brochada, até em velório. A estética pulp já é do gosto pessoal, do que leio desde sempre, literatura barata, de banca de jornais… Mas é uma influência mais estética mesmo, no sentido visual, creio, que de linguagem.
Quando escreveu Sexo anal – Uma novela marrom – um dos textos que integram A comédia mundana – não teve receio de não encontrar editora? O que planejava para o livro quando terminou de escrever?
Planejava ser editado por uma grande editora e viver da exorbitante quantia que esse excelente livro ia me dar. O plano não deu certo. Creio que não deu porque as editoras não leram o livro, chocaram-se por causa do título. Se tivesse enviado o livro sem um título pode ser que o plano tivesse dado certo. O título assusta, é verdade. Mas é o melhor título para o livro, sigo acreditando.
Seus livros meio que andaram sozinhos esse tempo todo. Como avalia sua carreira de escritor até agora? O que gostaria, ainda, de realizar?
O Robert Mckee, professor de escrita criativa norte-americano, diz que o bom escritor incompreendido é um mito – e eu concordo. Publiquei na internet, em uma editora minúscula; estive num projeto ultra-cult-alternativo, que foi Elvis & Madona; minha editora apostou alto nessa obra, A comédia mundana, reunindo minhas 3 novelas policiais sacanas – um livro de quase quinhentas páginas, caro para o padrão brasileiro, com capa do Benício da Fonseca, enfim, um projeto ousado, mas que está me revelando como autor para uma fatia maior de leitores. Ser lançado em Portugal, do jeito que aconteceu, é mais um degrau nessa construção de uma obra sem padrinho, sem QI, sem eu estar nos grandes centros, quase pelo subterrâneo. Ainda quero realizar livros suficientes para me estabelecer e só viver disso. Se precisei de dez anos para chegar até aqui, não me incomodo de trabalhar com afinco mais dez.
Por Valéria Martins