Miriam Mambrini é autora de nove livros – o romance A bela Helena é o mais recente, com lançamento dia 8 de junho na livraria 7Letras –, venceu vários concursos literários, participou de coletâneas prestigiosas como 30 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira, organizada por Luiz Ruffato, e teve os romances As pedras não morrem e O crime mais cruel (Bom Texto) adquiridos pelo Programa Nacional de Bibliotecas Escolares, com o que ganhou um bom dinheiro. Apesar disso, nenhum de seus livros jamais saiu por uma grande editora. Miriam antecipou uma tendência do século XXI, quando a produção literária se pulverizou, cada autor orbitando seu próprio público-alvo, em um fenômeno observado também nos mercados cinematográfico e fonográfico. Uma vantagem é que os parâmetros do sucesso estão sendo revistos. O que é mais importante para um escritor? Ser lido por quem? Para quê?
Para quem você escreve?
Escrevo para o leitor comum, que vai à livraria à procura de um bom livro. Escrevo para alguém como eu, que gosta de ler uma história que distraia, mas que vá além disso, e que não despreze o lado estético da escrita.
Já ficou chateada por nunca ter um livro publicado por uma grande editora? Houve tentativas nesse sentido?
Tentei inúmeras vezes ser editada por uma grande casa, sem conseguir. Achei que meus livros podiam ser uma boa alternativa aos montes de best-sellers estrangeiros que encontramos em todas as livrarias. Antes de mais nada, sou brasileira, falo de nossas coisas e sei contar bem uma história, talvez melhor do que muitos desses autores. Mas é mais seguro publicar um romance já consagrado no exterior ou um livro de pessoa famosa em outro ramo de atividade do que apostar num autor desconhecido. Já me questionei: para que escrever tanto se tão poucos leem meus livros, se nunca me senti verdadeiramente reconhecida? Mas logo percebo que não importa ser reconhecida ou não, ser lida por muitos ou por poucos. O que importa é o prazer de olhar a vida com curiosidade, deixar a imaginação passear nos campos do real e escrever – o que mais gosto de fazer.
A bela Helena é a história de uma mulher que viveu intensamente a vida, sem se poupar de amores e dores. Quem é Helena? Como a concebeu?
Sempre me impressionou a história verdadeira de uma moça que conheci. Aos cinco anos, foi deixada pela mãe na casa dos avós, que não sabiam de sua existência. Parti desse fato. Imaginei uma menina, Talita, que queria ser Helena. Ela não teria uma prosaica vida burguesa. Estaria sempre se adaptando a mudanças, indo e vindo ao sabor das ondas e marés, atormentada por paixões e lutando para realizar seus desejos. Foi assim que a construí. Os dramas das duas vidas, a real e a ficcional são bem diferentes, e posso dizer que Talita foi mais afortunada do que aquela que me inspirou.
São mais de 20 anos de carreira e nove livros publicados. Algo mudou na escritora Miriam Mambrini ao longo desse tempo? O que?
Hoje trabalho mais devagar, corrigindo, reescrevendo, procurando ouvir as vozes de meus personagens, ver seus gestos, sentir o que eles sentem. Meu texto perdeu um pouco da espontaneidade, ganhou em densidade. À medida que escrevo, leio e vivo, fico mais consciente de que a literatura é uma arte e uma técnica. A técnica, agora domino melhor. A arte, vou tecendo da maneira que posso.
Alguns de seus contos de livros como Vícios ocultos e o romance O crime mais cruel dialogam com o gênero policial, que está em moda. De onde vem essa vertente? Planeja escrever algo nessa área?
O mistério, o suspense, o crime e a investigação sempre me interessaram, no livro e no cinema. Gostei muito de escrever O crime mais cruel, e só não enveredei direto pelo romance policial porque fui atraída por outros temas. Tenho uma tendência à dispersão. Há muitas coisas que me interessam: as relações humanas, o quotidiano, as surpresas da vida, o caminho de tudo em direção a seu fim. No momento trabalho num romance policial clássico, no qual Próspero e Ferrero, personagens de O crime mais cruel, estão presentes, ajudando a desvendar um crime.
O que é a literatura para você? O que significa na sua vida e na sua maneira de olhar o mundo?
Sempre quis saber como era ser o outro, homem ou mulher, experimentar existências diferentes. A literatura me leva a viver quantas vidas quiser.
Por Valéria Martins
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