A arte da tradução

William Shakespeare (1564-1616) é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos e criou peças que reverberam até hoje, dentre elas, “Hamlet – O Príncipe da Dinamarca”. Nesta nova tradução, o escritor, mestre e doutorando em Tradução pela Unicamp, Leonardo Afonso, traz um texto em prosa, trabalhado de modo a incorporar uma laboriosa pesquisa em uma tradução fluida e legível. Leiam a entrevista com o escritor e tradutor, especialista na obra de Shakespeare. Leia a entrevista com o escritor.

 

 

Você é apaixonado por Shakespeare, fez mestrado e agora cursa o doutorado sobre a obra do escritor inglês. Quando e onde surgiu esse interesse em sua vida?

 

R: Surgiu no primeiro semestre da graduação em Letras, na UnB, quando fiz uma apresentação sobre “Hamlet”, “Macbeth” e “A Tempestade”. A própria tradução de “Hamlet” nasceu aí, da vontade de apresentar trechos do filme de Kenneth Branagh.

 

 

Você tomou para si a tarefa de traduzir “Hamlet” e investiu dez anos, entre paradas e retomadas, neste trabalho. Quais foram os maiores desafios nesta jornada?

 

R: Os maiores desafios foram, certamente, as dificuldades textuais presentes no próprio texto da peça, ou seja, passagens que são pouco claras até mesmo para os especialistas. Para vencê-las, foi preciso consultar diferentes edições anotadas, e foi feita a opção por não consultar as traduções disponíveis como substitutas para a interpretação do original.

 

 

“Hamlet” é considerada por muitos a obra máxima de Shakespeare. Outros dizem que é a melhor peça de teatro jamais escrita. Impossível numerar as montagens teatrais em todos os idiomas, ao redor do mundo. A seu ver, por que essa peça encanta tanto?

 

R: Acredito que em “Hamlet” Shakespeare teve um envolvimento pessoal, emocional, muito grande, basta ver que batizou um filho de Hamlet; alguns críticos acreditam que ele havia composto uma primeira versão quando jovem, a qual retrabalhou mais maduro. Creio que a desilusão com os modos corruptos do mundo que o poeta põe nas falas do príncipe segue de perto seu próprio pensamento. Assim, acho que a obra reverbera por ser sincera.

 

 

Inúmeras vezes, também, “Hamlet” foi levado ao cinema. Você assistiu todas as versões? Dentre as que assistiu, qual indicaria a alguém que não conhece a obra?

 

R: Não poderia dizer que conheço todas as produções, são inúmeras; vão do expressionismo alemão a Bollywood. Para conhecer a obra eu sugiro a minha favorita, a quase megalomaníaca versão do texto integral realizada por Branagh, em 1996, mas destaco também a de Laurence Olivier, de 1948. Para quem já conheceu, recomendo ainda o filme feito a partir da peça de Tom Stoppard, “Rosencrantz and Guildenstern are Dead” (1990).

 

 

Seu objeto de estudo no doutorado na Unicamp é outra obra de Shakespeare, o poema narrativo “A Violação de Lucrécia”. Quais são as particularidades desse poema e por que o escolheu?

 

R: Uma peculiaridade de “A Violação de Lucrécia” se relaciona com os dias de hoje: o poema narrativo foi composto num período de fechamento dos teatros e quarentena ante a temível peste bubônica. Lucrécia e o outro poema narrativo, “Vênus e Adônis”, foram as únicas obras de Shakespeare publicadas por iniciativa dele mesmo. É um trabalho que recebe pouca atenção, e foi possível localizar uma única tradução em português, daí o interesse.

 

 

Como tradutor, para aqueles que estudam Letras e almejam se especializar nesse ofício, o que você aconselha? O que é necessário para ser um bom tradutor?

 

R: Para ser tradutor convém, desde jovem, gostar de ler e de escrever. Para além disso, praticar: há teoria sobre tradução, mas não há teoria para tradução. Traduzindo vamos mais a fundo na língua de partida e na nossa, materna. Muitos tradutores apontam ainda que o conhecimento da própria língua é mais importante do que o da língua estrageira, daí a importância da prática constante de leitura e escrita.

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