“Prece de pescador” é o primeiro romance da escritora brasileira radicada na Dinamarca, Flavia Kaiser. Mesmo distante da terra natal, Vitória (ES), a literatura de Flavia nos faz sentir o cheiro do mar, ouvir o som dos atabaques, provar o sabor das comidas. Ao mesmo tempo, é internacional, na medida em que a trama se desloca de uma vila praiana para a Califórnia, Europa e Rio de Janeiro, entre outros pousos. A autora estará no Brasil para o lançamento de seu livro em setembro, dias 03 e 04 na Bienal Internacional do Livro do Rio, dia 05 na Livraria Lima Barreto, em Ipanema (RJ) e dia 13 na Kaffa Cafeteria, em Vitória (ES), sua terra natal. Leiam a entrevista com a escritora.
Você vive na Dinamarca há 19 anos, mas seu livro é bem brasileiro, dá para sentir o cheiro do mar e o rufar dos tambores das religiões de origem africana. Como consegue se manter tão próxima de seu país?
R: Sempre estive conectada com o Brasil graças à internet: mantenho minhas amizades pelo WhatsApp, escuto podcasts no Spotify, consumo a música e o humor do Brasil pelo Youtube e Instagram, e estou aí pelo menos uma vez ao ano. Adoro bater papo sem soar estrangeira, o Brasil sempre será o meu lar.
“Prece de pescador” começa em uma ilha com praias e natureza exuberante e viaja por vários outros lugares do mundo. Você é natural de Vitória, Espírito Santo, e trabalhou na Califórnia. O quanto os cenários retratados no livro espelham sua própria vida?
R: Todos esses lugares fazem parte da minha vida em diferentes momentos da juventude e inspiraram o romance, que cobre 10 anos da vida dos personagens centrais. Eu quis eternizar, na escrita, esses encontros que foram muito importantes para a minha trajetória.
No Brasil temos um problema crônico de falta de leitores e, segundo pesquisa recente, o mercado editorial brasileiro encolheu 40% de 2006 até hoje. Como é o mercado editorial na Dinamarca? Existem muitos leitores?
R: Os dinamarqueses consomem bastante a literatura nacional, e principalmente romances policiais são bem populares. O interessante é que, como em muitos outros países, a maioria aqui são as leitoras (75%), e o hábito da leitura aumentou significativamente para muita gente durante e depois da pandemia.
Por que escolheu publicar sua história no Brasil, em vez de em seu país, quando poderia
ter mais alcance?
R: Eu não curto escrever em língua estrangeira. Para publicar aqui, teria que ter escrito
em dinamarquês, e consequentemente a escrita não teria minha cara nem alma. Uma tradução, algum dia, quem sabe? Alguns amigos me cobram. Mas meu público alvo é definitivamente brasileiro.
Como leitora, consegue acompanhar a literatura brasileira contemporânea? Quais foram
suas leituras recentes?
R: Menos do que gostaria! Em 2023 estou lendo apenas mulheres, lembrando de incluir
e apoiar autoras iniciantes. Os últimos que li foram A cabeça do santo (Socorro Acioli), Água de Barrela (Eliana Alves Cruz), O Som do Rugido da onça (Micheliny Verunschk), Ponciá Vicêncio e Olhos d’água (Conceição Evaristo), A Pediatra (Andrea del Fuego), A casa do posto (Larissa Campos), Amor em Grãos (Leticia Maia), Tudo pode ser roubado (Giovana Madalosso), Quarto de Despejo e Casa de Alvenaria (Carolina Maria de Jesus), Lama (Marília Carreiro), entre outros.
Você vem ao Brasil para lançar “Prece de pescador”. Quanto tempo faz que não vem ao Brasil? O que espera desses encontros?
R: Estive por aí em janeiro passando um tempo na praia com minha família. Agora em setembro vai ser um outro esquema: vou participar da Bienal do Rio, e também vou convidar para noite de lançamento e dedicatórias tanto no Rio, quanto em Vitória. Espero que sejam oportunidades para conversar sobre meu livro e literatura em geral, especialmente escrita por mulheres, e trocar bastante com leitores e outras autoras.
Quais são seus planos como escritora daqui pra frente?
R: Estudo muito e pretendo seguir estudando. Cada exercício de escrita me aproxima do lugar onde sonho chegar: o de escrever com qualidade técnica sem perder a minha essência, o meu estilo. Gosto demais de romances, mas gostaria em breve de me aventurar pelos contos também.