Um livro divertido, permeado de suspense até o final. Assim é “O presidente morreu”, romance entre o policial e o humor, que nada tem a ver com a realidade. É pura ficção criada pelo médico-escritor Felipe De Caux, mineiro de Belo Horizonte, que reside atualmente em Marburg, Alemanha. Na trama, o dirigente de um país fictício, que rege com mão de ferro uma longa ditadura, amanhece morto após uma festa. O cadáver desaparece e, à moda de Quincas Berro D´Água, de Jorge Amado, perambula pela cidade, imprimindo à história pinceladas de realismo mágico. Leiam a entrevista com o escritor.
Você é mineiro de Belo Horizonte, fez faculdade de medicina em Cuba, mora há bastante na Alemanha, no entanto, escreveu uma história bem “brasileira”. De onde veio a ideia do seu livro?
R: Nunca pensei na história como bem brasileira, mas como uma historia latino-americana, pois o nosso país divide suas características e história com os seus vizinhos. Todas as minhas experiências fazem parte de mim e do que escrevo, incluindo minha brasilidade. A ideia veio ao assistir um jornal. Era uma reportagem sobre um presidente que estava doente, e assim começou o desenrolar da trama na minha cabeça.
“O presidente morreu” nasceu em ano de eleições presidenciais, quando o Brasil vivia uma forte polarização política. Não teve receio de que seu romance fosse mal interpretado?
R: Quando o escrevi, tentei deixar a política como pano de fundo, que, apesar de importante, não impediria o leitor, conforme sua ideologia, de aproveitar a história. Não pensei muito sobre isso, talvez por estar, há anos, acompanhando essa polarização à distancia. Acreditei, talvez ingenuamente, que entenderiam o conceito de ficção, mas logo vi que a característica mais forte dessa polarização era impedir as pessoas de discernir entre o real e não real.
O livro tem uma pegada forte de humor. Essa é sua marca como autor?
R: Sim, acho que o humor é uma marca minha, como pessoa. O humor faz parte de mim e da minha vida, e por isso faz sentido fazer parte do que escrevo, no entanto, acredito que é importante frisar que escrevo com humor e não livros de humor.
Vivendo no exterior, consegue acompanhar a cena da literatura brasileira? O que tem lido? Com quais escritores brasileiros se identifica?
R: Acho que dificulta um pouco. Eu consigo informações através de blogs ou newsletters, dos escritores que, por diferentes motivos, e aqui com certeza inclui talento, mas não exclusivamente, recebem mais visibilidade. Para compensar um pouco esse problema, quando vou ao Brasil procuro me informar e adquirir em algumas livrarias específicas ou por recomendações de conhecidos, e assim carrego a minha mala – torcendo para não pagar excessos de bagagem! – e abasteço a minha biblioteca. Os livros digitais têm contribuído muito para saciar a minha ânsia por leitura. Desta vez voltei trazendo comigo escritores como Natalia Timerman, José Henrique Bortoluci, Alejandro Chacoff, Giovana Madalosso e Carla Madeira.
Os capítulos de “O presidente morreu” tem os nomes dos personagens do livro. Por que elegeu esse formato para narrar sua história?
R: Acredito que esse formato me possibilitou escrever diversas histórias dentro de uma só. Ao narrar por personagens, percebi que essa seria a forma mais adequada para desenvolver suas características e suas historias, pois a cada capitulo modifiquei um pouco a narrativa, para que essa se adaptasse mais à personalidade de cada um. Alguns capítulos possibilitaram mais humor, outros mais seriedade, outros até mais infantilidade.
A vivência como brasileiro no exterior é desafiadora? Como isso influencia sua literatura e sua vida de escritor?
R: Acho que viver é algo desafiador, não importando onde estamos, e escrever me ajuda a enfrentar este desafio. O viver no exterior, assim como o viajar, te transforma e te faz crescer. Qualquer coisa que te faça sair da zona de conforto te faz mudar o modo de ver o mundo, e isso é o que mais me influencia. Além disso, assim como muita gente, eu vivia em uma rotina de vida e de trabalho, e acredito que nunca teria terminado o livro se não tivesse saído dela, se não tivesse feito uma pausa.
Quais são seus planos após “O presidente morreu”? Outro romance? Livro de contos?
R: Estou continuando a escrever, no momento, o meu segundo romance, cujo título deve ser “Entre Montanhas e Predições”. Comecei também a escrever um livro infantil. Na verdade, a minha cabeça anda permeada de projetos que pretendo um dia escrever.