Bomba necessária

Em tempos em que a disputa pela atenção das pessoas é feroz, contar uma história faz toda diferença. Pesquisas comprovam que a maneira mais efetiva de conquistar a atenção é contar histórias. A propaganda está repleta de histórias, as redes sociais contam histórias, fake news são histórias falsas. Nesse cenário, nada mais necessário que ler “A bomba embaixo da mesa – Storytelling 2” (Ed. Best Business), de Adilson Xavier. É a sequência do best seller “Storytelling”, do mesmo autor, que vende sem parar desde que foi lançado há 5 anos. Ambos os livros foram agenciados pela Oasys Cultural. Leiam a entrevista com o escritor.

 

“Storytelling – Histórias que deixam marcas” (Ed. BestBusiness) é um sucesso editorial e segue com boas vendas. Por que publicar “Storytelling 2”?

 

R: ”Storytelling 2 – A bomba embaixo da mesa” foi escrito porque o mundo perdeu o trilho da história e eu precisava entender o que está acontecendo, encontrar uma explicação e um rumo. Um dos elementos fundamentais da boa narrativa, a plausibilidade, de repente foi desprezado por um ruidoso número de pessoas, provocando grande turbulência naquilo que chamamos de civilização. Isso quando evoluíamos a pleno vapor na arte de contar histórias, com obras literárias, filmes, séries televisivas e raciocínios de marketing sofisticadíssimos, como destaca meu primeiro livro sobre o tema. Senti como se parte da humanidade tentasse dar um cavalo-de-pau, procurando aconchego na ignorância, transformando um passado imaginário em projeto de futuro.

 

Fomos surpreendidos por uma distopia veloz e furiosa. Ou a entendemos para reagirmos imediatamente, ou a bomba do retrocesso mandará nossas possibilidades evolutivas pelos ares.

 

“Em tempos sombrios, o olho começa a enxergar”, diz a epígrafe do livro. O que quer dizer?

 

R: Essa frase é do poeta americano Theodore Roethke. Ela reforça a ideia de que tempos difíceis despertam em nós capacidades e forças que desconhecíamos. Abro o livro com ela porque essa é a motivação de sua escrita: arregalar os olhos e apurar o foco para enxergar o quadro narrativo completo, incluindo realidade, ficção e as conexões entre ambas, colocar todas as cartas na mesa para sairmos dessa crise civilizatória o mais depressa possível.

 

Você se tornou um especialista em análise de discursos. Discursos dizem muito sobre pessoas e situações, e nos ajudam a vislumbrar o futuro. Seu livro pode nos ajudar nesse desafio de ler/ouvir nas entrelinhas dos discursos despejados sobre nós?

 

R: Sim. Esse é um dos resultados que espero. Quanto mais compreendermos o potencial do storytelling e como ele influencia as pessoas, mais condições teremos para apreciar as boas histórias e escapar das armadilhas. Conhecer a estrutura das narrativas e seus mecanismos é crucial para separarmos o joio do trigo.

 

A verborragia nas redes sociais se assemelha, cada vez mais, a uma Torre de Babel. Todo mundo tem algo a dizer sobre qualquer coisa. Como escolher quem seguir, a quem escutar, em quem confiar, em meio a essa multiplicidade de opiniões e pontos de vista?

 

R: Ter muitas opções é ótimo, mas complica o trabalho da escolha. Dar voz a todos também é ótimo, mas gera uma enxurrada de equívocos. Esse é o drama das redes sociais, transformadas num pântano de mediocridade onde os algoritmos se movimentam para destacar os participantes mais estúpidos, vulgares e agressivos. Quanto mais chocante e odiosa for a postagem, mais popular ela se torna.

Quando preciso de um médico, escolho o que tem formação mais sólida, mais experiência, mais casos de sucesso, mais currículo, mais reputação. Não pergunto aos vizinhos o que eles acham da minha doença, nem peço a uma tia do whatsapp que me receite um chazinho. Informação, assim como saúde, é coisa séria. Confiar preciosidades desse quilate a quem não tem preparo para checar, avaliar, diagnosticar e comunicar corretamente é dançar à beira do abismo.

 

Se saúde é assunto de médico, informação é assunto de jornalista. Esse raciocínio elementar se aplica a advogados, engenheiros, todos os tipos de profissionais. Claro, há bons e maus em todas as áreas. Mas é infinitamente mais seguro e sensato escolher entre os que supostamente têm conhecimento de causa, responsabilidade pelo que dizem e balizamentos éticos a respeitar, do que sair peneirando bobagens postadas por aí.

 

Seus dois livros, abarcam, juntos, a história da humanidade. Como foi a pesquisa para redigir esses livros? Como organizou depois as informações? Quanto tempo levou escrevendo?

 

R: As pesquisas foram deliciosamente penosas. Sempre que acabo de escrever um livro saio fortalecido pelos conhecimentos que precisei buscar, mas nos dois livros sobre storytelling minha “musculatura” ganhou robustez especial.

 

Foram dois anos escrevendo o Storytelling – Histórias que deixam marcas, e três anos escrevendo o Storytelling 2 – A bomba embaixo da mesa.

 

Ambos partiram de minha experiência como contador de histórias e meu interesse constante pela natureza humana. A partir daí, comecei a escarafunchar as relações das pessoas com as marcas, no primeiro livro; e os principais conflitos (homem x mulher, ricos x pobres, bem x mal etc) que permeiam a história da humanidade, no segundo livro. Ler, ler, ler, conferir, refletir e reler, antes de escrever, foi o método que adotei, só que com pesquisa e escrita acontecendo ao mesmo tempo. Minha organização de trabalho é tão caótica que talvez nem deva ser chamada de organização. Em “A bomba embaixo da mesa”, cada capítulo exigiu o esforço de um livro inteiro.

 

Além de “Storytelling 1 e 2”, você também escreve ficção. O livro mais recente, “2.990 graus – A arte de queimar no inferno” (Panda Books) é um romance policial sobre um serial killer que ataca políticos corruptos. Tem algum outro livro de ficção na gaveta? Quando irá lançar?

 

R: Tenho seis livros publicados, três de ficção e três de não-ficção. Os ficcionais são: E. O Atirador de ideias, Sobrevoando Babel e 2990 graus – A arte de queimar no inferno. Este último é um romance policial lançado entre os dois “storytelling”. A trama, como você disse, trata de uma série de assassinatos cruéis vitimando políticos acusados de corrupção. Mas o fio condutor da história é o paralelo entre o aquecimento global e a elevação da temperatura nos conflitos. Temos ali a internet usada como arma de desinformação, fanatismo religioso e ecos da ditadura militar provocando o acirramento de ódios, bancadas nefastas no Congresso Nacional incendiando os debates, e um policial honesto e zeloso enfrentando toda sorte de intempéries para exercer o seu ofício. É ficção repleta de metáforas, mergulhada na ebulição da realidade atual, e que desemboca naturalmente no Storytelling 2 – A bomba embaixo da mesa. Esses dois livros, de gêneros, propósitos, linguagens e estruturas tão distintos, no fundo estão interligados. Algo que não planejei, mas faz sentido.

 

Há um novo livro de ficção no forno, sim. O primeiro totalmente baseado em fatos reais. Cheguei a escrever algumas dezenas de páginas, não fiquei satisfeito com o tom e decidi recomeçar. A história existe, está clara na minha cabeça, mas ainda não me sinto seguro sobre a melhor forma de contá-la. Por isso, prefiro não revelar nada por enquanto.

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