O novo livro do poeta, escritor, professor e compositor Marcos Alexandre Faber, “A leitora de poesia” (Ed. Reformatório) é um romance epistolar que narra a troca de cartas entre um poeta que publica seus livros de forma independente e uma contumaz leitora de poesia. Mas não é uma leitora comum. Talvez seja uma das últimas capazes de apreciar com propriedade este que é considerado por muitos o mais elevado gênero literário. Através de um diálogo em que o humor e a elegância chamam atenção, o autor desfia questões e discussões sobre a poesia, o fazer poético e a relação entre escritor e leitor. Leiam a entrevista.
Quem é a Leitora de Poesia? Ela existe?
R: Talvez eu pudesse responder como o Gustave Flaubert “Madame Bovary c’est moi.” Ou seja, Maria Isabel, a leitora de poesia, sou eu. A verdade é que, do seu lugar de fala, ela diz muito do que penso sobre poesia e vida. Se ela existe? Claro que sim, e não só nos poemas.
Por que escrever um romance epistolar? Quais são suas referências literárias nesse gênero?
R; Eu estava acompanhando de perto uma tese de doutorado sobre As Cartas Portuguesa, um romance epistolar do século XVII, que são as mensagens apaixonadas da freira portuguesa Mariana Vaz Alcoforado a um oficial francês. Também li com muito interesse as Cartas das Heroínas de Ovídio. Acho que gosto e até prefiro as vozes epistolares femininas. De certa forma, a Maria Isabel é uma heroína. Também nunca me saíram da cabeças livros como Os sofrimentos do jovem Werther.
Marcos Alexandre Faber é professor de Literatura Brasileira e Portuguesa e crítico literário. “A leitora de poesia” traz discussões que teriam lugar em um livro de crítica literária. Era sua intenção, ao escrever o livro, discutir Literatura e Poesia de forma mais amena e/ou poética?
R: Acho que a melhor forma de discutir a poesia é poeticamente. Veja um livro como O Arco e a Lira (1956), de Octavio Paz. Eu li faz mais de vinte anos quando cursava o mestrado na UFPE e nunca me saiu da cabeça. Sempre pensei, “quero fazer um livro que discuta a poesia poeticamente”. Tomara que eu tenha conseguido.
“A leitora de poesia” é também a história de um amor platônico arrebatador. Quando iniciou seu livro já sabia o caminho que seus personagens iriam trilhar? Ou foi “acontecendo”?
R: Acho que o livro tem essa coisa do enredo aberto. Sem querer dar spoiler, mas há muitas possibilidades para o final. Eu iria dizer que não é um amor platônico, ao contrário, ao menos da parte da Isabel tem muita sensualidade. A poesia em si é sensual.
Além de poeta e professor, Marcos Alexandre Faber é compositor, e sua maneira de narrar é, por vezes, musical. Qual é seu gênero musical preferido? A música influencia a literatura e vice-versa?
R: Para a minha geração que teve a adolescência nos anos 80, a música era a melhor forma de comunicar a poesia. Um disco da MPB poderia ser um acontecimento poético. Paralelo aos meus poemas, eu sempre escrevi letras. Cheguei a fazer alguns discos. Acho que é natural trazer um pouco desta musicalidade para a ficção.
Você é professor da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), atualmente morando e lecionando na Universidade do Porto (Portugal). Como tem sido a experiência? Pretende voltar? O que acha do nosso país hoje, visto à distância?
R: Na verdade, concluí um pós-doutoramento na FLUP que considero uma espécie de segunda casa. O Porto é uma cidade maravilhosa, determinante na minha escrita, sobretudo poética. Quanto a Brasil, eu tenho muitas esperanças. É um país imenso com muitas possibilidades. O problema é quando a agenda econômica não inclui o povo. Tenho esperança que a arte, de alguma forma, possa contribuir para mudar este estado de coisa.