Confinados em uma plantação de batatas situada em algum lugar no interior Sul do Brasil, os irmãos Rita, Mirna e Mosquito vivem e narram uma tragédia anunciada. Inicialmente escrito como dramaturgia e posteriormente adaptado à literatura, o romance “Terra dentro” (Ed. Reformatório) carrega na estrutura e na linguagem a atmosfera sinestésica que é própria do palco e da poesia. Leiam a entrevista com a autora Vanessa Vascouto (foto).
Seu livro tem três protagonistas, irmãos que narram a mesma história, cada um de seu ponto de vista. Esse tipo de construção pode ser uma armadilha para o escritor, pela dificuldade em diferenciar as vozes. Em “Terra dentro”, elas são bem marcadas e distintas. Como foi o processo de construção desses personagens e de seus discursos?
R: O texto veio do teatro, isto é, foi concebido inicialmente como uma dramaturgia, e como demorei cerca de 10 anos para chegar ao formato de um romance, tive muito tempo para experimentar esses personagens no palco, em voz alta, definindo e detalhando o modo de falar de cada um deles. Um processo de atriz e diretora junto à escrita.
Você nasceu em uma cidade interiorana no Sul do Brasil. Chegou a presenciar ou tomar conhecimento de algum conflito semelhante ao que ocorre no romance?
R: Sim. Especialmente a região de onde vem a família do meu pai (Joaçaba / Oeste catarinense) é cheia de histórias do tipo, algumas das quais ainda guardo anotadas para escritas futuras.
“Terra dentro” pode ser lido como romance, mas também como peça de teatro. Sendo você atriz, esse livro nasceu para o palco e se tornou romance? Ou fará o caminho contrário?
R: Ele nasceu para o palco e se tornou romance, mas nada o impede de voltar ao palco ou ganhar outras plataformas. Adoraria vê-lo filmado, por exemplo.
A violência é uma marca da narrativa. De onde vem essa veia? De alguma influência literária, dramatúrgica ou cinematográfica? Caso sim, qual(is)?
R: O livro foi, em grande parte, inspirado em uma história real na qual as passagens mais violentas realmente aconteceram, então muito desse aspecto se justifica por aí. Algumas referências que trabalham bem a violência e serviram de apoio pra essa produção foram (William) Faulkner, (Samuel) Beckett e Maura Lopes Cançado.
Com o infantil juvenil “A árvore e a Nãna”, vc foi finalista do Prêmio Barco a Vapor 2018, um dos mais difíceis e seletivos prêmios literários brasileiros. De que trata esse livro? Pretende voltar a escrever infantis juvenis?
R: O livro é sobre uma árvore que quer mergulhar, mas que quando finalmente faz esse movimento percebe que suas raízes estão sob a casa de uma moça, a Nãna, que vê as raízes da árvore se mexerem e vai falar com ela. Começa aí então um dilema de compaixão. Esse texto não era pra ser um infantojuvenil, mas no meio do processo, aconteceu. Não pretendo voltar a escrever pra esse público não, mas, como acidentes acontecem, quem sabe?
Quais são seus planos como escritora? Onde gostaria de chegar?
R: O plano é continuar estudando filosofia, especialmente as orientais – uma paixão que muito me ajuda no desenvolvimento da literatura que quero fazer; continuar curiosa sobre boas histórias e seguir elaborando o mundo em palavra. Pretendo também explorar outros formatos nas artes, como performances, por exemplo. E na literatura, além da produção autoral, pensar numa formação pra tradução. Isso me interessa muito.