Um romance pleno de Prana

Prana é, segundo os Upanishad, antigas escrituras indianas, a energia vital universal que permeia o cosmo, absorvida pelos os seres vivos através do ar que respiram. É também o título e o nome da protagonista do segundo romance da escritora e jornalista Jacqueline Farid, semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura com seu livro anterior, “No reino das girafas” (Jaguatirica, 2012). “Prana” mistura e reúne relato de viagem, ficção, cenários belíssimos em um dos países mais exóticos do mundo. Leiam a entrevista com a autora.

 

 

Seus dois romances publicados – o lançamento “Prana” e o anterior, “No reino das girafas” – se passam em países distantes e exóticos, como Índia e Namíbia (África). As viagens lhe motivam a escrever? Precisa delas para criar? Caso sim, para onde será a próxima?

R: Sim, as viagens me motivam a escrever, porque quando estou viajando reflito muito e contemplo bastante. Reflexão e contemplação são ferramentas básicas para a escrita. Além disso, tenho muitas epifanias de viajante, insights, enfim, as viagens me revelam, senão o melhor, pelo menos o mais interessante do mundo e de mim mesma. Funcionam também como um dispositivo a partir do qual construir uma história. Até o momento, preciso sim das viagens para criar. Se isso vai se manter ou se vou buscar outras fontes de inspiração, só o tempo dirá. Meu próximo livro, que já comecei a escrever, nasceu de uma viagem ao Oriente Médio.

 

 

“Prana” começa em Ouro Preto, Minas Gerais, onde vive a protagonista. Por que escolheu essa locação?

R: A escolha dessa locação se deu de forma totalmente casual e inusitada: Ouro Preto surgiu no meu caminho no meio da Índia. Em determinado momento, conheci uma pessoa que falava espanhol e dizia que tinha aprendido com alguém de Ouro Preto. Ali surgiu toda a trama do livro. Como nasci a meia hora de Ouro Preto, na cidade vizinha de Itabirito, e passei toda a minha vida por ali, foi uma coincidência nada desprezível.

 

 

Você já se lançou como escritora escrevendo romances, narrativas longas, por isso mesmo, mas complexas. Quais foram os obstáculos no processo de escrita de seus livros, e como lidou com eles?

R: O primeiro livro, No Reino das Girafas, foi muito difícil. Havia uma insegurança na minha capacidade de escritora e também no desenvolvimento da trama, era algo muito novo pra mim, que até então só tinha escrito matérias de jornal e me aventurado em roteiros de cinema. No caso de Prana, o processo já foi bem mais estruturado. A boa recepctividade ao livro anterior me deu mais segurança e a experiência me ajudou a desenvolver melhor a parte fictícia.

 

 

Você é jornalista e trabalha bastante. Como e quando encontra tempo para escrever? Como é sua rotina de escritora, se é que existe uma rotina? 

R: No Reino das Girafas eu escrevi durante um período sabático, em casa. No caso de Prana, viajei muito para escrever, em períodos de férias. As primeiras páginas foram escritas numa cabana de um hotel em Bariloche, afastado da cidade, vendo a neve cair. Também escrevi em Búzios e em Pipa, no Rio Grande do Norte. Os grandes saltos foram dados nessas viagens. Mas também escrevi em casa, a noite, nos finais de semana. O livro que estou iniciando, ao que parece, será escrito em casa mesmo, nos intervalos do trabalho. Para ele, ainda não defini uma rotina.

 

 

Os professora de escrita literária enfatizam a importância de se ler literatura, para então escrever. Você é boa leitora? Sempre foi? Caso sim, diga quais livros a influenciaram ao longo da vida.

R: A realização de concluir a escrita de um livro é grande e genuína, mas na verdade eu gosto mais de ler do que escrever e, mais do que isso, tenho mais necessidade de ler. Sou uma leitora voraz e só a escrita me acalma em situações difíceis ou até mesmo banais, como uma turbulência aérea. A leitura me dá um sentido pra vida. Acho que escrevo para me ler. É a leitora que sou que me torna autora. Os livros que mais me influenciaram foram A Hora da Estrela, da Clarice Lispector, além de toda a escrita dela e todos do Joseph Conrad. Mas adoro também muitos outros autores, como a Patrícia Highsmith, de quem li tudo, o Amos Oz, Paul Auster. Mais recentemente, me encantei muito pela Elena Ferrante.

 

 

Seus livros mostram mulheres fortes, que se lançam em aventuras, que não tem medo de se ferir, seja em busca do Amor ou do que faz sentido para suas vidas. Você se considera uma escritora feminista? Existe uma preocupação  ou compromisso com isso ao escrever?

R: Não me considero uma escritora feminista e não quero levantar nenhuma bandeira na minha escrita. O que busco na literatura vai muito além dos gêneros. Mas na minha vida sim, costumo brincar que sou um manifesto feminista, porque a liberdade é meu maior desejo e minha principal busca e não há como uma mulher apreciar tanto a liberdade de escolha sem transgredir essa sociedade extremamente machista. Acho que, em geral, as mulheres são mais inteligentes e mais fortes que os homens. Mas gosto muito dos homens, muitos deles são inteligentes, têm um perfume bom, são atraentes e encantadores.

 

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