Nos compassos da dança da vida

Uma narrativa marcada pela música – seja ela clássica, sertaneja, popular. Em “Dança Sueca” (Patuá), segundo romance da escritora paulista Vera Saad, encontramos uma trama delicada – dividida em dueto, ciranda e quadrilha – sobre os desdobramentos do encontro de duas mulheres: Filipa Maria, ou Titia, professora de piano, e Angel, manauara recém-chegada a São Paulo, filha de pai búlgaro e mãe brasileira. Na noite em que elas se conhecem, um segredo é revelado e cabe ao narrador, Birá, contar essa história que também é dele: as angústias e os segredos de uma família marcada pela estranheza, a loucura e a morte.

 

Dança Sueca tem como narrador Birá, personagem inspirado em uma pessoa real, Felipe Barbosa, que dá seu depoimento no final do livro. Quanto de realidade e quanto de ficção há no livro?

 

R: Creio que, mais do que até outras manifestações artísticas, as pessoas me inspirem muito. Uma fala, uma vivência, alguns segredos, tudo serve de matéria-prima para minha escrita. Posso afirmar que Felipe Barbosa me inspirou bastante. Mas existe o processo de criação, certamente, e fazer do livro pura ficção.

 

A música é presente em toda narrativa. Citações de músicos, peças clássicas, cantores bem ecléticos. Você é amante de música? Toca algum instrumento? Como as melodias se encaixam ou dividem as partes de seu livro?

 

R: Sou amante da música, há mais de 20 anos tento aprender a tocar violão, sem sucesso! O acorde Sol Menor, um dos mais tristes, dá o tom ao livro. Mas a divisão do romance é de acordo com as partes da tradicional Dança Sueca: dueto, ciranda e quadrilha.

 

Dança Sueca é também um roadbook porque os personagens se deslocam, viajam, avançam pelo Brasil até o Amazonas, estado natal de uma das protagonistas. Conheceu Manaus para escrever essa história? Gosta de viajar?

 

R: Interessante você ter reconhecido essa característica do romance, que é de fato um roadbook. Sim, o romance, no formato que é hoje, nasceu em Manaus. Gosto muito de viajar sozinha, quando posso conhecer todo o tipo de gente e de história.

 

O que lhe dá mais prazer, ouvir música ou ler literatura? Ou qual tipo de prazer cada uma é capaz de lhe prover?

 

R: Ambos me dão muito prazer. A música é universal, um acorde é o mesmo em qualquer lugar do mundo, a nos levar a lugares muito especiais. Já a literatura envolve mais do que sentidos, é também um exercício intelectual, o que não deixa de ser catártico.

 

Este é seu terceiro livro de ficção publicado pela Patuá. Como é a experiência de sair por uma editora independente? Qual é a sua percepção do mercado editorial brasileiro hoje?

 

R: Além de admirá-la demais, sou muito grata à Editora Patuá, que sempre me acolheu. Ter sido publicada por uma editora independente me tirou a zona de conforto, me mostrou que também devo ter participação na divulgação do livro, na formação dos leitores etc. O mercado editorial brasileiro mudou muito graças ao trabalho das editoras independentes e, sobretudo, à internet.

 

Além de escrever, você participa de coletivos de escritores, como o sarau Senhoras obscenas e o coletivo Escritores de Quinta. Esse tipo de atividade ajuda o escritor? Como?

 

R: Tanto o sarau quanto o coletivo me ajudam não apenas no ofício como escritora, quando posso divulgar meu trabalho para outros escritores e leitores, como também na minha atividade como leitora. Já conheci escritores e escritoras muito bons, além disso, pelo Senhoras Obscenas, tive a oportunidade de ler um número grande de escritoras até então desconhecidas.

 

– Valéria Martins

 

 

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