A Paralisia do homem, no livro de André Nigri

Na meia idade, Jofre Monteiro luta para sobreviver aos destroços do fim de seu terceiro casamento. Dilacerado pelo álcool e pelas lembranças, tenta reconciliar-se com a ex-mulher. Dividido em quatro partes, o romance “Paralisia” (Editora Reformatório), do escritor e jornalista André Nigri, vale-se de planos narrativos que vão do personagem ao relato da mãe e aos depoimentos de suas ex-mulheres, cartas, confidências, diários, vários caminhos por onde destila o sofrimento e a desorientação da personagem, enquanto a vida segue seu rumo e novas pessoas vêm fazer parte dela.

 

Paralisia é um romance de várias vozes e linguagens, e essa é uma de suas principais qualidades. Como foi o processo de construção do livro: já sabia desde o início que seria assim ou foi surgindo aos poucos?

 

R: Não sabia. A primeira parte foi escrita num jorro, e foi só ao termina-la que me dei conta de que havia uma história pulsando com vontade de se expandir. Daí surgiram as outras vozes, todas voltadas para iluminar o personagem central, Jofre.

 

Seu protagonista, Jofre, é um sujeito suscetível aos impactos da vida. Como você o concebeu?

 

R: Ele foi um filho materialmente mimado e emocionalmente abandonado. Essa combinação o levou a querer transformar sua vida em algo mais concreto e fecundo. Sua concepção surgiu ao longo do processo de escrita: aos poucos fui percebendo que ele é um dos muitos exemplos de um tipo de classe média alta brasileira que vive de renda. Um filho do privilégio.

 

Nota-se em Paralisia uma narrativa forte e bem estruturada que revela o bom leitor que André Nigri é, antes de ser escritor. Quais são suas influências literárias e como lida com elas na hora de escrever?

 

R: É impossível para mim dizer quais são minhas influências sob o risco de omitir escritores muito importantes na minha formação. Quanto à estrutura, que prefiro chamar de arquitetura, sem dúvida os mestres do passado são Flaubert e Machado, e, entre os contemporâneos, Milan Kundera, Philip Roth, J.M. Coetzee, Rubem Fonseca e Sérgio Sant’Anna, cuja maleabilidade e hibridismo das formas o fazem inimitável, mas por outro lado proporcionam aos escritores inumeráveis sugestões.

 

Você é jornalista, teve e ainda tem oportunidade de entrevistar grandes escritores da literatura brasileira por conta da profissão. Como esses encontros o alimentam e inspiram?

 

R: Conheci e conheço de fato inúmeros escritores, e o que o posso dizer resumidamente sobre eles é que quanto melhores são, menos arrogantes se apresentam. Os medíocres sempre procuram exibir o verniz da erudição. Essas conversas me alimentam o espírito, mas não são propriamente inspiradoras.

 

Paralisia é uma bela estreia que rendeu elogios em rede social de Sérgio Sant´Anna, um dos maiores escritores brasileiros vivos. Você tem um projeto literário? O que pretende fazer a seguir, em sua carreira de escritor?

 

R: Penso que vários temas de Paralisia não foram esgotados e ainda me atormentam. Poucos meses depois de terminá-lo, comecei uma série de narrativas mais breves – não tão curtas quanto contos, tampouco longas quanto um romance – cujo tema é o desencontro amoroso e a comicidade erótica. A mão pesou muito em Paralisia no que diz respeito ao sexo. Senti vontade de falar sobre o desejo de modo mais risível. Já escrevi sete histórias, costuradas por um único tema – o desencontro – e cujo título provisório é Breves Traições.

 

 

– Valéria Martins

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