Memórias de um Brasil distante  

Uma infância diferente no Amapá, quando ainda era território. Uma família de judeus vindos do Marrocos, que ajudou a desenvolver esta cidade, hoje estado brasileiro. A trajetória de um jovem médico que decidiu permanecer no Brasil enquanto todos iam embora, reafirmando o compromisso com seu país. Todas essas histórias juntas compõem o volume de contos memorialísticos É assim que eu conto, de Leão Zagury. Lançamento 21 de março, quarta-feira, Travessa Leblon, a partir das 19h.

 

O senhor costuma dizer que não é escritor, embora tenha dois infantis publicados – O menino e o macaco Caco e O jacaré que comeu a noite – e tenha ganhado primeiro lugar no concurso de poesias, e segundo no de contos, da Academia Brasileira de Médicos Escritores em 2016. Por quê?

 

R: Na verdade eu sou um leitor incansável. Fundei um clube de livros aos 10 anos de idade na minha cidadezinha que não tinha biblioteca nem livraria. Além disso, sou um ‘contador de histórias’. Gosto de contar e de ouvir. Entendo, como Moacyr Scliar, também médico como eu, que ‘contar uma história é estabelecer vínculos afetivos com as pessoas. Para isto servem as palavras, para estabelecer laços entre pessoas e para criar beleza’. Escrever minhas histórias foi uma consequência natural, mas isso não faz de mim um escritor.

 

Sua infância foi incomum, morando em uma parte do Brasil quase selvagem, quando ainda era território do Amapá. Quais são as lembranças mais fortes desse lugar e a maior saudade?

 

R: Não concordo com o selvagem. Podemos dizer mais simples e sem a sofisticação dos grandes centros urbanos. A mais forte é a sensação de solidariedade, a miscigenação em todos os lugares e atitudes.

 

Alguns ‘causos’ narrados no livro tem crédito ‘digo a data em homenagem ao Pintinho, que me contou essa’. Qual foi o método de coleta desses episódios?

 

R: Fui testemunha de muitas dessas histórias, algumas ouvi dos meus amigos, e outras são ‘lendas’. Na verdade, resolvi fazer parecer mentiras as verdades que vivi.

 

Sua família faz parte da História de Macapá. Uma praça com o nome de seu pai, Isaac Zagury, pioneiro da indústria e do comércio, teve seu nome mudado para Praça do Coco em 2010. Como ficou isso?

 

R: Os cidadãos organizados em um movimento o Memorial do Amapá reivindicou e conseguiu reverter a situação.

 

O senhor voltou muitas vezes a Macapá? Quando vai lá, o que costuma fazer?

 

R: Volto sempre que posso. Procuro velhos amigos, percorro ruas, visito praças que frequentava na infância. Caminho no Trapiche Eliezer Levy de onde desejo que minhas cinzas sejam lançadas no Rio Amazonas. Nunca deixo de ir até a minha casa, retratada na capa do livro, que atualmente está totalmente descaracterizada. Não consigo conter as lágrimas. Choro muito. Com saudade.

 

Mesmo não sendo escritor, tem plano de escrever novos livros?

 

R: Pretendo continuar lembrando. Já tenho outras histórias. É possível que escreva a história do meu avô, um grande homem que se apaixonou pela Amazônia.

 

 

Por Valéria Martins

 

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