O último Natal com biscoitos de limão e beijo de boa noite dos pais, saudade com gosto de framboesa, a menina de olhos cor de poço fundo, que economizava as palavras para os caderninhos que eram só seus. Esse é o universo pelo qual passeia o olhar da jovem escritora carioca Luiza Mussnich, cujo livro de estréia terá noite de autógrafos 15 de março, terça-feira, na Argumento Leblon, a partir das 19h. Uma leitura que toca fundo e prepara o coração para que, um dia, o amor vá encontrar você.
Em um dos textos do livro você fala da menina que guardava segredos em caderninhos que eram só seus. Essa menina é você? O material para este livro surgiu destes cadernos?
Misturo biografia e ficção em tudo que escrevo. Meus textos surgem a partir de elementos biográficos, mas logo fogem de mim, voam para outros cantos que nem eu mesma prevejo. Muita matéria prima para o livro veio de minhas anotações porque coleciono cadernos. Não saio de casa sem levar um, mas não sou a menina introspectiva do conto: para cada leitor ela será diferente.
Quais livros marcaram sua vida? Quais escritores te influenciam e por quê?
Alguns deles: Cem anos de solidão (Gabriel Garcia Márquez), Capitães da areia (Jorge Amado), Madame Bovary (Gustave Flaubert), A insustentável leveza do ser (Milan Kundera), Água viva (Clarice Lispector). A escrita densa e sensível de Clarice me encanta, adoro a simplicidade de juntar ideias do Leminski e da Ana Martins Marques e me inspiro muito na delicadeza do Bartolomeu Campos de Queirós e do João Anzanello Carrascoza.
Para quem você escreve?
Escrevo para os adultos que não deixaram de ser criança, para as mulheres que gostam de roupas bordadas a mão e para os homens que choram.
Lindas fotos acompanham os textos. Foram feitas exclusivamente para o livro? Como foi o processo de tirá-las?
Minha memória sempre foi muito ligada a imagens, sensações, cheiros e, inconscientemente, isso passou para minha literatura. A diretora de arte, Violaine Cadinot, sugeriu que ilustrássemos o livro com fotos por achar que ele é extremamente imagético, com símbolos marcantes. Gostei muito do resultado e acho que as fotos, feitas pelo Demian Jacob, construíram um novo eixo narrativo.
O que planeja para sua vida literária? Quais serão os próximos livros a vir à Luz?
Dizem que os escritores começam com contos, depois escrevem romances e que um poeta nunca vira romancista, e vice versa. No momento, prefiro não ficar presa a essas amarras e deixar que os escritos me levem… Vou continuar escrevendo e transitando entre os gêneros. Termino a pós graduação em Formação do Escritor pela PUC-Rio no fim do ano e sigo escrevendo crônicas e textos em meu blog (www.palavrasemvoolivre.wordpress.com).
Valéria Martins